terça-feira, 31 de dezembro de 2013

The End

Que cada um de nós tenha a saúde, a sorte, a sabedoria, a determinação e a criatividade (que, nos tempos que correm, é cada vez mais necessária!!!) para escrever um 2014 memorável!!! Até lá!!!



domingo, 29 de dezembro de 2013

Das minhas leituras

Os últimos três livros que li tinham em comum a questão do TEMPO...

... na sua relação intrínseca com a conceção humana da vida.

 
 
... na inevitável relação que estabelece com «a grande música», com a(s) memória(s) e com a essência humana.
 
 
 
 
... como um caminho de crescimento e de mudança. Crescimento e mudança de uma cidade e das duas pessoas que, nela, se conheceram e amaram, reinventando-a, através da pintura, da arte. Um reinvenção feita à medida do olhar desse homem e dessa mulher e do sentimento que, durante quatro anos, os manteve unidos.  
 



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

É Natal!!

Bom dia, gente natalícia!!!

Hoje, os sons serão estes!!! Muita alegria!!!


domingo, 22 de dezembro de 2013

Das minhas leituras

Eu ainda não li nenhum romance de António Lobo Antunes. Ainda não li nenhum daqueles livros que, pelo que ouço, justificam que este escritor luso já tivesse sido, ou venha a ser, um prémio Nobel. No entanto, gosto dele. Gosto pelas crónicas que escreve semanalmente na revista Visão e, acima de tudo, pelas entrevistas que vai dando, ora na televisão ora em revistas ou jornais, e onde sempre me surpreende pela positiva. A verdade é que se aprende tanto, ouvindo-o. Na Visão desta semana, tive mais uma oportunidade de ler uma entrevista sua, bem longa e rica também. Totalmente recomendável. Claro que há variadas passagens que podiam ser alvo de uma publicação aqui ou no facebook, mas decidi destacar uma que me fez lembrar algo de que se falou, há pouquíssimo tempo, num jantar de amigas e que tem a ver com a minha preocupação relativamente às poucas coisas que, até agora, fiz na vida. Uma vida muito simples, provavelmente, resumível numa frase. E já lá vão 39 anos de quase nada. Trata-se de um excerto em que Lobo Antunes recorda  um encontro com George Steiner. E reza assim:

«Passei uma tarde maravilhosa, foi tão bom, um prazer intenso, ele tinha em casa o piano do Darwin e cartas do Freud para o pai... Em Harvard, o gabinete dele ficava ao pé do de um grande físico, um homem de grande beleza, com um cachimbo, e que toda a gente tentava imitar os gestos e tal. Uma vez, Steiner ouvi-o a dar uma descompostura a um outro físico: «Como é que você que é tão novo ainda fez tão pouco?». Como é que você que é tão novo ainda fez tão pouco... É extraordinário.»

Isto fez-me sorrir e franzir o sobrolho também. De certo modo, é um pouquito duro de ouvir, mas, ao mesmo tempo, é apenas uma verdade de que não se pode fugir. Não se é jovem demais para se fazer coisas. É na juventude que se acumula o que, na velhice, será encarado como toda a experiência de uma vida plenamente vivida. E se deixamos o tempo passar, à velocidade que ele vai, fica difícil aproveitá-lo bem.

Estranhezas (das boas)

Chegou ontem, mas ainda não deu ares da sua graça... Obrigada, inverno. Mantém-te assim, meigo e terno, que, prometo, não me vai apetecer deixar-te ir...


(A foto foi tirada da página facebookiana «O Tempo das Palavras».)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sonoridades

A música portuguesa vai bem e recomenda-se. Proponho para o dia de hoje, este “Pior que perder”, que é o 2º single do segundo álbum de Adriana, "O Que Tinha de Ser", onde predomina um interessante cruzamento de vários géneros, como o Jazz, a Pop e  os sons latinos.
 
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

É daquelas frases


 

É daquelas frases, não é?

Do filme «Hiroshima, meu amor» (1959), de Alain Resnais, argumento da autoria de Marguerite Duras. Está na minha lista de filmes intemporais a ver.
 


domingo, 15 de dezembro de 2013

Sonoridades

A proposta de banda sonora é esta: «Only love», de Ben Howard. Não condiz minimamente com o inverno nem com o Natal, pelo contrário, faz-me lembrar de dias quentes, cheios de azul e de sol. A melodia traz-me de volta o saudoso verão, e o vídeo leva-me de volta à Nova Iorque que eu encontrei no longínquo, e quase feliz, mês de maio de 2011. Uma Nova Iorque repleta de sol e do azul que, muitas vezes, dissociamos da grande cidade. Mas eu vi-o por lá, apesar do «smog». E, por isso, de vez em quando, sabe mesmo bem ouvir/ver isto...
 
 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Estranhezas (ou não)

     Eu adoro «Downton Abbey». Acho que já não seria a mesma coisa se chegasse ao fim de semana e não tivesse de pôr em dia os episódios gravados da série. Adoro os diálogos, os cenários, o guarda-roupa, os atores, o argumento. É tudo de grande qualidade. No entanto, ultimamente, começo a notar um problemazito que as séries, sejam americanas, sejam inglesas, começam a ter: à medida que as novas temporadas vão surgindo, a qualidade do argumento vai diminuindo e começam a fazer aquilo que o público quer, para agradar e manter as audiências em alta, justificando e garantindo as temporadas que se seguirão. Isto aconteceu com «Anatomia de Grey», «Betty Feia», «Glee», séries que me proporcionaram uma primeira temporada e, nalguns casos, até uma segunda temporada fabulosas, mas, a partir daí, foi o declínio (a tragédia do previsível e do popular!), de tal modo que, simplesmente, deixei de ver. (Isto nunca aconteceu, por exemplo, com «E.R. - Serviço de Urgência»!) É verdade que não sigo muitas séries e que o meu «corpus» é, portanto, pouco significativo no mar de séries que a TV emite, mas acho que não pode ser irrelevante o facto de isto ter acontecido com estas três e agora me parecer que se vai aplicar a «Downton». Espero que seja apenas uma impressão e que os autores me surpreendam pela positiva, continuando a escrever com qualidade e sem preocupação de agradar às audiências... Era bom, para variar. No entanto, se a coisa continuar pelo caminho que vai, sugiro vivamente uma mudança de título para «Doidos por Mary»... (Até, se calhar,  poderiam acrescentar «her ladyship», para o pessoal mais distraído não confundir com a outra...) 
 
 
(Imagem de Google)

É daquelas frases

 
Dentro de mim, há a esperança (que acalento de há uns anitos para cá!) de que os 40 trazer-me-ão a sabedoria e a maturidade necessárias para pôr em prática todas as posturas «zen» que por aí pululam em quadradinhos como este... O problema é que falta pouco mais de um mês e ainda não senti nem uma brisazinha da mudança colossal que (espero!) se avizinha...
 
 

(Imagem roubada da página facebookiana «Make The World a Better Place».)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sonoridades

Quando é que este virtuoso pianista português é convidado para vir ao Teatro Micaelense deliciar-nos com esta sua versão de «A Gaivota», de Amália Rodrigues? Quando? Hmmm. Cultivo a esperança de um 2014 insuflado de promissores ventos culturais que varrerão as bandas da Rua de São João... e o primeiro concerto de Júlio Resende em Ponta Delgada será um facto. Vejam lá se não valerá a pena.
 
Sozinho...
 
 
 
 
Acompanhado pela interessante Elisa Rodrigues (que já cá esteve, com Rodrigo Leão!)...
 
 

 
Acompanhado pela sensualíssima e dona de um invejável vozeirão, Ana Moura...
 


domingo, 8 de dezembro de 2013

Cinema

     Ganhei coragem e fui ver «The Counselor»... (A coragem foi necessária para pagar o bilhete e não para ver o filme!)
     Para dizer a verdade, as expetativas eram bem baixinhas, à conta das inúmeras críticas negativas que fui lendo. Por isso, não me dececionei minimamente. Pelo contrário, até saí com a pequena sensação de que não empregara muito mal os quase sete euros e que até valera a pena. Vamos então a uma reflexãozinha!!
    
     Que não é muito consistente, não o é realmente. Que peca por diálogos demasiado elaborados, literários e ambíguos, tendo em conta o meio em que as personagens se movem, concordo. Que há alguma incoerência no argumento, parece-me que sim, e a vários níveis. Que o Javier Bardem lembra um barrote queimado e tem um péssimo penteado, é também inquestionável. No entanto, há uma certa originalidade nisto tudo que o distingue de outros filmes sobre o mais que batido tema dos cartéis de droga na América do Sul. E, por isso mesmo, não me aborreceu de morte como a maioria dos outros. Não tem demasiadas cenas de tiros e de perseguições, nem prostitutas boazinhas e exploradas por chulos toxicodependentes e maus, nem aqueles diálogos intermináveis entre broncos paus-mandados e polícias à paisana e infiltrados. O filme, a meu ver, doseia bem todos estes ingredientes e agarra-nos, porque as personagens até são interessantes, apesar de muito pouco verosimilhantes. Para além disso, o facto de toda a trama se focar no advogado (que de conselheiro nada tem!!!), na sua determinação e confiança, na sua ascensão e queda, nos seus conflitos interiores, na sua paixão pela lindíssima Laura (Penélope Cruz). Neste filme, o que se vê sobretudo é um homem ambicioso e confiante (mas tremendamente amador no que respeito ao tráfico de droga) a aprender a duras penas que, naquele meio, só saem vitoriosas as pessoas sem alma, pois as consequências de um passo em falso são dolorosamente inimagináveis. E o pior é que, nessa queda, nunca se vai sozinho, outras pessoas vão atrás. O advogado aprende assim que os seres amados são os elos mais fracos num mundo onde a vida não tem qualquer valor, se comparada com o dinheiro.
     Foram muitas as frases interessantes que tentei fixar. Ficou esta, que pode parecer um pouco vulgar, mas, depois de visionado o filme, se calhar, ganha outra pujança semântica...
«Nada é melhor do que estar na cama contigo. Tudo o resto é uma espera.»

sábado, 30 de novembro de 2013

Das minha leituras

Sempre achei que a Filosofia e a História surgem demasiado cedo nas nossas vidas, quando ainda não temos a maturidade para realmente assimilarmos os conhecimentos que nos proporcionam e entendermos a sua utilidade pela vida fora. Por isso, na maioria dos casos, tudo o que se aprende «fica pelo caminho», perde-se no tempo. No meu caso, embora tenha sido boa aluna (depois que Passos Coelho irrompeu na cena política, este conceito sofreu uma degradação semântica...) a História e a Filosofia, só muitos anos depois do ensino secundário é que realmente passei a olhar para estas duas disciplinas com outros olhos e comecei a sentir pena por não ter absorvido convenientemente (de modo sustentável, digamos) os saberes que me foram transmitidos. A minha História e a minha Filosofia não têm alicerces sólidos, por culpa da minha imaturidade na altura, mas também dos métodos de ensino que eram então utilizados, pois, diga-se a verdade, o verbo que melhor se conjugava nessas aulas era o «bocejar»...  
 
É por esta razão que, atualmente, tenho tentado variar mais a natureza das minhas leituras. Tenho tentado evitar estar sempre no âmbito da ficção, do romance, que adoro, e intercalar com ensaios que tenham a ver com a Filosofia ou com a História. A última leitura fruto desta preocupação foi A Filosofia como uma das Belas Artes, de Daniel Innerarity, do qual já havia lido outro livro, que também apresentei neste blogue. Neste livrinho, o filósofo restitui à Filosofia o lugar fundamental que ela deve ocupar na sociedade, rejeitando a arrogância de se assumir como uma ciência ou de se considerar suficiente como perspetiva do mundo, atitude que a caracterizou e a descredibilizou outrora. Para Innerarity, a Filosofia está ao nível de artes como a Literatura e necessita de aceitar a sua natureza interdisciplinar. Ela não pode ser o único modo de encarar o mundo, ela é uma das maneiras de o fazer e complementa-se com as outras que existem.
 
Fica aqui um excerto:  
 
 
«Os homens – entre os quais figuram os filósofos – têm constantemente muitas relações com a realidade, das quais uma – entre outras, é ou pode ser a filosofia. A cegueira – a corcunda que é motivo de regozijo para os homens «práticos» - surge quando se reduz esta pluralidade de relações com a realidade a uma única, porque isto conduz à perda da realidade. Todos nós somos cidadãos de vários mundos, cada um dos quais limita o poder dos outros e, deste modo, protegem-nos da agressão de uma única relação com a realidade. Desta pluralidade depende a nossa liberdade. A estupidez é o resultado de um ato de monopolização pelo qual uma destas relações se converte em poder único. A própria filosofia é assim ridícula quando – através de uma espécie de fundamentalismo filosófico – pretende fazer da relação peculiar com a realidade que ela é um poder sem rival, uma relação que exclui e substitui todas as outras. A sola filosofia é muito pouco sábia: não tardará a acabar esgotada pelo esforço, e terá conquistado o receio das suas antigas colaboradoras na tarefa de colocar o homem numa razoável trama de relações.» (pp. 150/151 da edição da Teorema)
 
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sonoridades

E a proposta  musical é «I wanna be yours», de Arctic Monkeys. Sugiro que seja ouvida em modo outra vez, outra vez, outra vez... até ao recolher obrigatório.
 
 
 

Estranhezas

Eu gostava de conseguir passar aos meus alunos o valor do CONHECIMENTO. Mas, tantas vezes, invade-me a desconfortante certeza de que, de todas as minhas realizações (ou quase) diárias, mensais, anuais, esta é a que mais se frustra...
 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sonoridades

Para a C.

A nova música dos U2. «Ordinary Love», da banda sonora do filme Mandela: a long walk to freedom.
 
 

domingo, 10 de novembro de 2013

Ondjaki

Ondjaki ganhou  o prémio José Saramago há uns dias. Isto não me entusiasmou, ou só me entusiasmou na medida em que é sempre bom saber que alguém ganhou um prémio. Não por ser o Ondjaki. Da sua escrita, só conhecia alguns excertos de contos, que fui encontrando nos manuais de Português do 3º ciclo. Nunca me impressionaram. Mesmo assim, no ano passado, comprei o livrinho Os da Minha Rua. Guardei-o. Nunca cheguei a ler. Entretanto, não porque o autor ganhou um prémio, mas porque uma explicanda minha me pediu que eu lhe sugerisse contos para uma apresentação oral, tirei-o da estante. Mais de um ano depois de o ter adquirido, precisei dele e levei-o para ser emprestado. Enquanto esperava pela moça necessitada de um conto, folheei o meu livrinho de histórias de Ondjaki e deparei-me com um excerto de que gostei muito. É o início de uma das duas cartas com que o livro termina. Trata-se da transcrição de dois exemplares de uma troca de correspondência entre Ondjaki e uma Ana Paula.  


«querida ana paula

         não sei exatamente onde estás, isto pensando que as frases que te queria entregar implicariam saber a tua localização geográfica, para depois equacionar a minha, mas logo entendi que não, que eu podia dizer estas coisas de outro modo, assim
         :
         escrevo-te de um certo sul
         ,
         porque às vezes dentro de nós faz sul
 
        e acabo de fechar um livro com aquela sensação esquisita (humana? metafísica?) que concluir um livro traz - como se a pele se imbuísse de certo fechamento, os olhos pedissem calma à luz e os sons ficassem terrivelmente delicados de se dizer e de se ouvir
         talvez esta carta seja o que eu não soube pedir aos outros, alguns dias de silêncio (...)»


Realmente, é um rapazinho virtuoso este Ondjaki... E não cheguei a esta conclusão por ele ter ganho um prémio. Este excerto é o meu fundamento. Claro que terei de ler outros para ter a certeza certezinha de que temos um escritor com o valor da intemporalidade que se exige a quem ganha prémios, mas confesso que, por enquanto, terei de ficar por aqui.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sonoridades

Porque hoje é quarta-feira e a semana já pesa... Porque já vamos em novembro e o ano já pesa... Fica aqui esta proposta musical: «Cansei», de Silva.
 

domingo, 3 de novembro de 2013

Perfeito

«Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante.»



(A citação é de Miguel Torga, Diário, 1935; a foto foi tirada da página facebookiana «The Eyes of Children Around the World».)

Das coisas que oiço...

Hoje, na Antena 1, alguém dizia que a escrita de Vasco Graça Moura é feita de erudição e de intuição, de ironia e de melancolia, a «melancolia do homem que ama a literatura»... Depois, citaram este poema, intitulado «Insinceridade»... que eu, ignorante de tantos grandes escritores e de tantas grandes leituras, não conhecia, ou, por uma infeliz distração, não recordava.

insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.


Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sonoridades

Descobri esta voz há relativamente pouco tempo e ando a conhecê-la devagarzinho... O seu dono é Gregory Porter. Sei que deu dois concertos em Portugal no início de outubro, um em Lisboa e o outro no Porto, e que tem feito muitos fãs. Eu gosto especialmente desta «Hey Laura»...

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed...

Morreu ontem, embora, na verdade, não vá morrer nunca. Sei que é um lugar-comum dizer isto, mas não deixa de ser verdade. Morreu ontem, mas continuaremos a ouvi-lo hoje, amanhã, depois... Infelizmente, não tive a sorte de ouvi-lo ao vivo e a cores nos concertos que deu em Portugal, como membro dos «The Velvet Underground» e a solo. No entanto, incrivelmente, passei grande parte deste verão de 2013 a ouvir «Satellite of love», depois de a (re)encontrar numa cena de um filme que, entretanto e com pena minha, esqueci. (Mas hei de lembrar-me, com certeza.) É tão bonita. Fica por aqui...
 
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Estranhezas

E eu... que nem gosto de gatos... dei por mim a sorrir diante deste...




 
 
    (A foto é da página «Cultura Inquieta»)

domingo, 20 de outubro de 2013

Sonoridades

Tantas são as vezes que a pintura retrata, de algum modo, a música, ora fazendo desta o seu tema, ora mesmo fazendo desta as suas cores primárias. No segundo caso, a relação pode não ser muito óbvia e há que ter sensibilidade para se chegar lá, se calhar, até algum conhecimento técnico. No primeiro caso, é bem mais fácil, pois evidenciam-se os motivos relacionados com a arte do ritmo e da melodia e também com a própria dança, visto que esta mantém com a música a intimidade já sobejamente conhecida. As telas abaixo são exemplos de como a pintura pode ter sonoridades variadas...



 (Ildyukov Oleg)

 (Alexander Hodyukov)

 (Maya Green)

 (Iván Slavinsky)

 (Willem Haenraets)

(Todas as imagens foram retiradas da página «Open Art» do Facebook)

sábado, 19 de outubro de 2013

Cinema

«TO THE WONDER»...

«A essência do amor» é o título português para este «To the wonder», de Terence Malick, realizador de «A árvore da vida». Quem já conhece sabe que os filmes de Malick são essencialmente poéticos, não narram linearmente uma história, mas, sem dúvida, fazem-nos senti-la. Os diálogos são raros, privilegiando a voz off, como se, mais do que o que as personagens dizem, importe saber o que elas sentem, o que elas pensam, enquanto narradoras da sua própria história. E é esta a sensação que temos ao longo dos filmes de Malick, de que estamos dentro das personagens, a seguir as suas emoções, os seus pensamentos mais íntimos. E, depois, a música, sempre a música, e a constante coreografia que parece marcar a maioria dos movimentos das personagens. E também a manhã, sempre a amanhecer, o pôr do sol, sempre a anoitecer, e as árvores sem folhas... A natureza também é poetizada.

E são estes os ingredientes do realizador: a poesia, porque cada frase dita podia ser o verso de um poema, a música, que completa o ambiente lírico, a dança e a fotografia, já que cada plano é feito para emoldurar. Os outros três ingredientes são o Amor, Deus e o Sofrimento, essência do SER humano. Se em «Tree of life», falava-se do sofrimento decorrente da morte de um filho e questionava-se Deus à conta de permitir que tal fosse possível, neste «To the Wonder», volta-se a questionar Deus pelo facto de o amor poder morrer, o amor entre um homem e uma mulher que casaram e deparam-se com o declínio da relação, o amor de um padre que, diante do sofrimento e da desgraça dos outros, que nele se apoiam, sente que o seu amor se vai esgotando. O amor que ele pensava provir de uma fonte inesgotável... a divina. Se a mulher culpa o homem pelo fim do amor, o padre culpa Deus pelo facto de a realidade humana não espelhar o divino e ele não conseguir encontrar Deus em parte nenhuma.

Mas há uma frase (entre outras) que me ficou e, se calhar, sintetiza a essência do amor: «Quero manter o teu nome.». Se puderem, vejam.
 
 
(Aspeto negativo: Ben Affleck...)
 
 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Das minhas leituras

É tão bom quando estou a ler e tenho aquela sensação estranha de sintonia total com o pensamento de um autor. Parece que me conhece por dentro, que as suas palavras ecoam o que eu própria sou, que escreveu aquilo para mim, que está a falar mesmo comigo ou até de mim...
 
«Trava-se em mim de há muito uma luta com a morte, e paira sobre ela a vergonha humana de ter medo. Quando às vezes chego a encarar a morte sorrindo, sem o mais ínfimo desgosto ou receio, sinto-me, por momentos, orgulhoso e feliz. E é então que respiro por todos os sentidos a lúcida alegria de viver.»
 
«Parece que vivemos sem dar por isso e às vezes - perante a morte - acordamos, para logo tornar a sonhar este sonho mesquinho. A mim, já me custa voltar à anestesia. Penso demasiado no transitório da vida. E isso sufoca-me à nascença todos os ímpetos. Temos de nos esquecer, não há dúvida, de que isto é uma grande lotaria, uma coisa cruel e absurda. Como se nos figuram irrisórios os projetos e os desgostos, quando imaginamos os que já morreram e os que morrem todos os dias. O amor, a ação, a embriaguez - eis os anestésicos. Ou a fé, para quem a tenha.»
 
 
 
 
(Os excertos são de Urbano Tavares Rodrigues, De Florença a Nova Iorque, p.87; a imagem é do Google, uma pintura intitulada «Couple Riding-Black and Violet», de Wassily Kandinsky, 1906.)
 
 
 

Sonoridades

Esta música é deliciosa, não é? Digam-me que sim. Hoje, não me apetece ser contrariada.
 
A verdade é que acho Feist uma cantora a necessitar da minha atenção há já algum tempo, mas, de vez em quando, disperso-me, encontro outras vozes, outras melodias, e deixo-me ir... O mundo da música é tão vasto, tão rico, na maioria das vezes, tão agradavelmente surpreendente, apaixonante mesmo, que me perco. Todavia, por agora, concentro-me neste plangente «I'm Sorry»...

sábado, 12 de outubro de 2013

Das minhas leituras

Ainda não tinha lido nada de Urbano Tavares Rodrigues. Decidi-me por este «De Florença a Nova Iorque» por ser um livro de viagens e porque, antes de Urbano, já havia Nova Iorque no meu universo íntimo. Depois, veio Florença... Ainda nem estou a meio do livro e já percebi que «viagens» aqui tem um sentido mais amplo, o sentido de andanças por «terras, homens e livros», tal como diz o próprio autor. Mais importante do que os lugares para onde nos leva são as pessoas e as ideias que, pelo caminho, ele (e nós!) vai conhecendo. Até agora, Paris, Londres, Lisboa, Albert Camus, Claudel, Alberto de Oiveira, António Nobre... O livro é, na verdade, uma coletânea de textos dispersos que foram publicados no «Diário de Lisboa». Têm, assim, uma natureza jornalística, mas não deixam dúvidas do seu pendor literário. Apesar de redigidos entre os anos 50 e 60, a escrita é deliciosa.
 
 
 
Fica aqui um excerto que, acho, legenda na perfeição umas fotos que tirei há pouco menos de um mês. Um acaso (e, já agora, um ocaso) feliz.

«Ontem, regressando de Lisboa com um fim de tarde que tingia de rosa as areias do Tejo. As velas, no rio, suaves, sulcando as águas roxas. Despedida de uma paisagem com a qual raramente comuniquei, por falta de serenidade de espírito. Ontem, cansado, banhei-me de entardecer. E assim levarei nos olhos para o Inverno as palmeiras e os pinheiritos dessorados e todo o cenário brando, até as casas pretensiosas que margeiam a via férrea. Tudo era lindo à hora em que as coisas adoecem de cor. Sobretudo os barcos, tão lentos, no rio, e o areal rosado, sem ninguém...»

(O excerto é de Urbano Tavares Rodrigues, «De Florença a Nova Iorque», p.86; as fotos são minhas.)
 
 
 
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Estranhezas

Eu, que não sou lá muito otimista, que não encaro de ânimo leve o longo prazo e que trago comigo alguns medos (mais ou menos fundamentados consoante a área que os estimula), tenho-me notado ultimamente cheiinha de vontade de fazer planos. Planos daqueles que antecipam cenários felizes, principalmente de viagens. Logo eu, que só costumo perder tempo com o futuro para antecipar desgraças e, por isso, muito raramente olho para lá ou planeio seja o que for... Muito estranho. Sinto-me mais ou menos assim... 
 
(As fotos são de «The eyes of children around the world»)
 
 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sonoridades

Fica aqui a Anne Brun e a sua interpretação de «Don't leave me», que já me faz companhia há uns meses e tem suavizado muitas das minhas horas. A letra é tão bonita, tocante mesmo; a voz torna a melodia ainda mais doce e emotiva. Acho que vale a pena conhecer a cantora, esta música e outras. Tem um repertório bastante variado e interessante...


domingo, 6 de outubro de 2013

Arte

O amor não é feito de dois adolescentes aos beijos e abraços frenéticos. O amor é feito de dois velhos, um homem e uma mulher encarquilhados de vida, provavelmente de olhar ausente, sentados num banco de um jardim...


«Não sei, amor, se dado nos será
de envelhecer. Será que um de nós só morrerá
quando formos tão velhos que para o outro
não faz diferença nenhuma que aquele morra
(na velhice se vive de memória vaga)?
Será que tantos anos de amargura,
suspeitas, frustrações, raivas e ódios,
tudo isso, tempestade, de que é feito o amor
que os burros não entendem, nos serão
acrescentados desse sonhar juntos
em silêncio, num sorriso (que se esquece
e mesmo nos lábios se ignora)?
Uma velhice que foi vida e será vida
porque foi vida com que nos comemos
quotidianamente um ao outro,
vorazes como peixes num aquário
de vidro inamovível, tão opaco,
translúcido, às vezes, transparente sempre,
que é o amor?»

11 de junho de 1971
Jorge de Sena, «Nocturno de Londres», Poesia III, Círculo de Poesia, Moraes Editores, pp. 198 e 199

Gustav Klimt, The Tree of Life, 1909

Perfeito

Na página 357 do livro Walden ou a vida nos bosques, de Henry David Thoreau,  é-nos dito que «Não é preciso dinheiro para comprar o indispensável à alma.»...


(A foto é de «The eyes of children around the world»; a passagem foi transcrita da edição da editora Antígona )


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sonoridades

A música portuguesa, de facto, está de muito boa saúde e RECOMENDA-SE. Fica aqui a proposta de audição deste «De cara a la Parede», d grupo A Naifa. O título desta música é igual a um de Lhasa de Sela. Não sei se há alguma relação... Espero que, um dia destes, A Naifa passe por cá...
 
 
 
Oiço ainda os corpos  vincar a noite
um campo minado
de corações tristes
explodindo o rosto na parede
foi talvez a nossa última canção
 
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela muitas músicas depois
foi talvez, a nossa última canção
 
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
 
um terrível verso solitário
e a culpa, de a ter levado
a um coração onde as canções
onde as canções
morreriam de frio
 
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
 
 

Das minhas leituras


Realmente é majestosa esta ilha onde tenho a sorte de viver. Nos dias de sol, como hoje, pelos caminhos que me conduzem até aqui (ao meu lugar dentro do lugar tão meu, que já é S. Miguel), apercebo-me sempre do milagre que é esta paisagem que me rodeia. Uau... por mais que a veja, não me canso, por mais que a fotografe, não a esgoto. É verdade que, de vez em quando, sinto aquela salutar necessidade de me afastar e vê-la de longe, todavia, levo-a sempre comigo. Sempre. Aliás, acho que é só porque a carrego em mim que consigo realmente apreciar e absorver outros lugares... muito diferentes do meu, parecidos com o meu, mais modernos que o meu, quem sabe mais civilizados que o meu, ou até talvez mais bonitos também, mas certamente não tão familiares nem amados como o meu. Aos meus olhos, claro.

José Luís Peixoto fala dessa consciência do «meu lugar» numa crónica que foi publicada na «Visão» há relativamente pouco tempo e que eu já li e reli de tanto que gostei, de tanto que me identifiquei com esse sentir... Fica aqui, com algumas supressões.

«Quando era pequeno, rodava sobre mim próprio com as pontas dos pés. Rodar-rodar-rodar: as formas a saírem dos contornos, as cores a misturarem-se demasiado rápidas e, depois, ao parar de repente, o chão como um barco debaixo da tempestade, a paisagem inteira a oscilar desgovernada, eu a tentar equilibrar-me e, ao mesmo tempo, criança, a apreciar esse caos. A seguir, a pouco e pouco, o horizonte abrandava e voltava a fixar-se.

Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso.

Posso estar a falar com a minha mãe, como há dois dias atrás, e ela diz-me: aquele sobreiro que fica entre o campo da bola e o Monte da Torre. E, entre tantos, eu sei exactamente qual o sobreiro a que se refere. Essa é a precisão com que sei o meu lugar. As ruas, calcetadas com paralelos, suportam o meu pensamento desde que nasci. Em gestos largos, os muros são caiados anualmente porque o branco precisa de renovação, a pureza é uma tarefa permanente.
(...)
Entre o que me puxa de um lado e de outro, há o meu lugar a manter-me firme, a fornecer-me equilíbrio infinito. A diferença de forças é incomparável. Por isso, nunca me perco no mundo imenso.Levo comigo uma origem e um destino. Levo comigo um sentido. Irreversível como um mergulho, não me perturbo. Eu tenho um lugar. Sinto que lhe conheço cada detalhe e, no entanto, todos os dias o exploro e lhe encontro novidade. No meu lugar, os sinos do adro dão as horas.
(...)
Assim, estou preparado para atravessar o mundo inteiro. E, se mais mundo houver, mais mundo será tocado pela minha pele. Mi-nha pe-le, palavras pronunciadas sílaba a sílaba. E nenhum continente é demasiado grande ou demasiado estéril para me impedir de atravessá-lo. E nenhum detector de metais conseguirá identificar o tamanho e os ângulos do lugar que levo comigo: amor. Repito: amor.

Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso. (...)»

(O excerto é da crónica «O meu lugar», de José Luís Peixoto, in revista Visão de agosto, 2013; as fotos são minhas.)
 
 

 
 
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Arte

PARIS por Nadir Afonso...

                        


PARIS por Jay Jay Johanson...

 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Em Dia Mundial da Música...

...lembrei-me de um documentário sobre Arthur Rubinstein a que assisti há pouco tempo (infelizmente, não registei a data...), na RTP2. Arthur Rubinstein (1887-1982) foi um talentoso pianista polaco e judeu que se naturalizou americano e ficou conhecido pelas suas magníficas interpretações de Chopin e Brahms. Um homem que passou pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, mas que nunca perdeu o amor à vida, a crença na felicidade ou a paixão pela música clássica. O que me cativou nesse documentário não foi só a evidência musical do talento de Rubinstein, mas principalmente a forma como a peça conseguiu transmitir a jovialidade do seu ser, a alegria da sua postura perante a vida, apesar do passado de dor que, certamente, contribuiu para o envelhecimento do seu corpo, todavia, não da sua alma.

Deixo aqui algumas das frases que Rubinstein proferiu na entrevista incluída no documentário e que realçam a alegria com que encarava a vida . Também deixo um vídeo que atesta o seu virtuosismo na execução dos «Noturnos», de Chopin.

«Não há vida comparável a uma vida como a minha. Se me permitirem que diga algo quase indecente de presunção... nunca conheci de facto ninguém tão feliz quanto eu.»

«Sou um colecionador de momentos de eternidade.»

«Alguém me perguntou no outro dia: o senhor acredita na vida depois da morte? E eu disse-lhe: francamente, não... Mas, se houver, ficarei encantado, absolutamente encantado!»





 


 


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Sonoridades

É impossível não falar novamente do concerto de ontem à noite. Eu já assisti ao vivo a alguns concertos de fadistas maravilhosas, como Mariza, Cátia Guerreiro, Cristina Branco, Carminho, e cada uma delas me impressionou à sua maneira, deixando cá dentro um cada vez maior apreço por esta nossa canção património mundial da humanidade. Fui mesmo ganhando a certeza de que os fadistas não são todos iguais, não cantam todos da mesma maneira, mesmo quando partilham alguns dos mais reconhecidos fados, e a voz de Amália, por entre os versos e as notas, impõe-se aos ouvidos dos mais conhecedores e atentos.  A verdade é que estas fadistas (e outros, como Gisela João, Camané,...) têm mostrado que são contributos relevantes para o fado que se canta no século XXI e que, graças a elas, se continuará a cantar e a ouvir pelos anos vindouros. No entanto, a Ana Moura excedeu todas as minhas expetativas. Arrepiou-me. A sua voz é de uma vibração, de uma sensualidade, de um calor, de um intimismo, de uma harmonia e força... singulares. Ela aqueceu o Teatro, o coração e a alma de uma audiência muito interessada, muito atenta e, principalmente, expectante. Falo por mim. E não defraudou, surpreendeu, emocionou. É caso para se dizer «Ainda é melhor ao vivo...». Acho mesmo que não será exagero afirmar que esta mulher eleva o fado a outra dimensão, onde reconhecemos a tradição, sem dúvida, mas também uma contemporaneidade que cativa sobremaneira.

Foi mais um concerto memorável. E eu trouxe comigo este «Amor Afoito»...
 
 
 
 

sábado, 28 de setembro de 2013

Sonoridades

É já logo à noite o concerto de Ana Moura no Teatro Micaelense. Ela vai trazer-nos «Desfado» e as expetativas são muitas. Em modo de pré-audição, fica aqui «A case of you» como proposta de banda sonora. A minha versão favorita é, sem dúvida, a de Joni Mitchell, mas a fadista portuguesa também não se sai nada mal...





Das minhas leituras

Sobre a espera...
 
Eu ainda não me debrucei sobre nenhum livro de Gonçalo M. Tavares. Ainda. Mas para lá irei mal seja possível. Por aqui, há uma vergonhosa lista em espera e, apesar de até ler a um bom ritmo e ir despachando um livrinho atrás do outro, é preciso ler com tempo, pensando sobre o que nos é dito, por isso, não consigo fazer todas as leituras que ambiciono assim tão rapidamente. No entanto, vou lendo as crónicas que Gonçalo M. Tavares escreve na Visão, o suficiente para perceber que é um escritor válido, um escritor pertinente. 
 
Na revista desta semana, GMT fala da espera. Num mundo de aceleração como este em que vivemos, achei interessante alguém parar para refletir sobre algo que acaba por ser inerente à condição humana, se pensarmos que, a partir do momento em que nascemos (até, talvez, do momento em que somos concebidos), estamos naturalmente à espera da morte... Mas essa é a Grande Espera. Entretanto, temos de aprender a lidar com outras esperas, as pequenas esperas do dia a dia, as quye nos impomos a nós próprios, as que são impostas pelos outros.
 
«O que se deve fazer enquanto se espera? É uma pergunta sensata. A sensata resposta é, de imediato: nunca fazer outra coisa. Se é para esperar, esperamos - não lemos, não vemos televisão, não abrimos o computador, não telefonamos - esperamos, apenas. Se quem espera está a fazer outra coisa, então não está verdadeiramente a esperar - está a fazer outra coisa. Pois, portanto, esperemos. Esperar é, assim, um verbo, uma ação, uma atividade, é uma coisa que tem de ser feita - não é um vazio que tem de ser preenchido com outra tarefa. Esperar é a tarefa. É a tarefa de quem espera. A arte de esperar eis, portanto, o que me parece urgente desenvolver. Há pessoas que sabem esperar, há pessoas que não sabem esperar. E a forma de aprender a Grande Espera é começar a treinar a pequena espera (esperar por alguém no café; esperar pela nossa vez para sermos atendidos, etc.). O que é a Grande Espera? É esperar pela morte. Estar vivo em parte é isto (é também muitas outras coisas, claro): é saber o que fazer enquanto se está por completo na Grande Espera. Há pessoas que sabem esperar a Grande espera, há pessoas que não.»
 
(Excerto da crónica «Vinte anos», de Gonçalo M. Tavares, Visão de 26 de setembro a 2 de outubro, página 10; a imagem é de Google.)
 
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Perfeito...

Quando olhei para esta foto na página de Facebook de «The eyes of children around the world», lembrei-me imediatamente do texto poético de Almada Negreiros intitulado «A Flor», que já andava adormecido nos confins da minha memória, mas, pelos vistos, despertou à aparição destas três meninas deliciosamente concentradas em alguma coisa ou em alguém... Achei perfeita a associação...


«Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão de...licadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!»

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sonoridades

Proponho a faixa «Cure for pain», do álbum com o mesmo nome da banda Morphine. Já não é recente, é de 1993, mas continua atualíssima na sonoridade fantástica da melodia e na letra, claro. É que a ciência ainda não tratou de resolver a questão da «cura para a dor» de natureza vária que, com demasiada frequência, enche alguns dos nossos dias de um cinzento difícil de dissipar.... Um dia, quem sabe??? Por agora, vai-se adocicando esses momentos com os sons de uma banda alternativa que soube bem combinar jazz, blues e rock...




sábado, 21 de setembro de 2013

Das minhas leituras

Zezé, Glória, Jandira e o pé de laranja lima chamado carinhosamente de Minguinho, e ainda mais carinhosamente de Xururuca,  perduraram no meu imaginário desde que, em criança, segui, pela televisão e religiosamente, a série brasileira «Meu Pé de Laranja Lima». No entanto, não sei porquê, passados tantos anos de me ter deliciado com a história de Zezé, ainda não tinha tirado um tempinho para ler o livro de José Mauro de Vasconcelos que serviu de inspiração à adaptação televisiva.
 
O momento chegou e, desde há uns meros dois dias, ando a ler sofregamente o livro, aproveitando cada minutinho morto dos intervalos na escola e das horas de descanso em casa. Estou a meio e já deu para perceber que é um livro de uma ternura gigantesca, um livro que tem a capacidade de nos emocionar e também de nos fazer rir. Escrita numa expressão bem espontânea do português brasileiro, a história do menino reguila que tantas vezes levava sovas «de caixão à cova» traz consigo a intemporalidade dos clássicos e a habilidade de aceder rapidamente à alma quer de um leitor miúdo quer de um leitor graúdo, bastando para isso que seja um pouquinho sensível e esteja preparado para ver o mundo através dos olhos de uma criança muito, mas muito especial, uma autêntica pestinha com um coração de ouro e uma inteligência nunca vistos num corpo de cinco anos....
 
Fica aqui um excerto:
 
«- Olhe, Titio, quando eu era pequenininho eu achava que tinha um passarinho aqui dentro e que cantava. Era ele que cantava.
- Pois então. É uma maravilha que você tenha um passarinho assim.
- O senhor não entendeu. É que agora eu ando meio desconfiado com o passarinho. E quando eu falo e vejo por dentro?
Ele entendeu e riu da minha confusão.
- Vou explicar para você, Zezé. Sabe o que é isso? Isso significa que você está crescendo. E crescendo, essa coisa que você diz que fala e vê chama-se o pensamento. O pensamento é que faz aquilo que uma vez eu disse que você teria logo...
- A idade da razão?
- Bom que você se lembre. Então acontece uma maravilha. O pensamento cresce, cresce e toma conta de toda a nossa cabeça e nosso coração. Vive em nossos olhos e em tudo que é pedaço da vida da gente.
- Sei. E o passarinho?
- O passarinho foi feito por Deus para ajudar as criancinhas a descobrirem as coisas. Depois então quando o menino não precisa mais, ele devolve o passarinho a Deus. E Deus coloca ele em outro menininho inteligente como você. Não é bonito?
Eu ri, feliz, porque estava tendo um ´´pensamento´´.»
 
É bonito sim. Muito. E gosto tanto dos diminutivos «pequenininho» e «menininho»...
 
(Excerto de Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, Livros Dinapress, páginas 67 e 68. A imagem é de Google.)
 
 
 
 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Entender a música

Acho que vale a pena tirar uns minutinhos para ver este vídeo...


Cinema

Das frases mais significativas que terminam uma história...

«Sempre haverá o tempo entre nós, sempre haverá o amor, o amor e as horas.»
 
 
 



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sonoridades

 
Este «Altar particular», um samba bem triste de Maria  Gadú, cantora e compositora brasileira, é de 2009. No entanto, só veio parar aos meus ouvidos há muito pouco tempo e tem-me feito companhia sempre que possível. É que nem sempre é fácil ouvi-lo, embora seja de uma imensa beleza...
 
 
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

É daquelas frases...

... das frases que se impõem.

Deve ser defeito ganho com a formação académica este meu frequente hábito de ficar com uma frase na cabeça depois de ouvir uma entrevista, assistir a um concerto, a um filme ou, como desta vez, a uma peça de tea...tro. É um problema que não me incomoda, mas, dependente do lugar onde estou, cria uma certa ansiedade na busca de um meio para registar... a tal frase, a que se impôs, e que não posso perder. Foi o que aconteceu sábado passado, enquanto assistia à apresentação da peça teatral «Luto», com texto de Rui Neto, no Teatro Micaelense. A frase, de sentidos plurais, foi apaixonadamente proferida pelo ator Miguel Damião, e deixo-a por aqui, a ver se faz eco em mais alguma alma...

«Trago a morte de Deus na ponta dos dedos.»

Quanto mais atormentado, mais o ser humano se torna poeticamente profícuo. Se o amor e a paixão inspiram, a morte e a incapacidade para dela nos libertarmos também são terrenos artisticamente férteis. E aqui, nesta frase de Rui Neto, a morte como condição «sine qua non» de SER HOMEM, mas também como o desfecho inevitável da própria narrativa religiosa por ele criada numa vã tentativa de alcançar a segurança da imortalidade.

(A foto é do Google: Miguel Damião no Teatro Micaelense a apresentar «Luto».)
 





segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Feliz Ano Letivo Novo!!!!

Recomeço sempre com a esperança de conseguir realizar este feito grandioso: «A arte mais importante do professor é a de despertar a alegria pelo trabalho e pelo conhecimento.», Albert Einstein.
 
 
 
 
(A foto é de «The eyes of children around the world», uma página do facebook que adoro; a citação foi transcrita do Citador, também do facebook.)