sábado, 21 de setembro de 2013

Das minhas leituras

Zezé, Glória, Jandira e o pé de laranja lima chamado carinhosamente de Minguinho, e ainda mais carinhosamente de Xururuca,  perduraram no meu imaginário desde que, em criança, segui, pela televisão e religiosamente, a série brasileira «Meu Pé de Laranja Lima». No entanto, não sei porquê, passados tantos anos de me ter deliciado com a história de Zezé, ainda não tinha tirado um tempinho para ler o livro de José Mauro de Vasconcelos que serviu de inspiração à adaptação televisiva.
 
O momento chegou e, desde há uns meros dois dias, ando a ler sofregamente o livro, aproveitando cada minutinho morto dos intervalos na escola e das horas de descanso em casa. Estou a meio e já deu para perceber que é um livro de uma ternura gigantesca, um livro que tem a capacidade de nos emocionar e também de nos fazer rir. Escrita numa expressão bem espontânea do português brasileiro, a história do menino reguila que tantas vezes levava sovas «de caixão à cova» traz consigo a intemporalidade dos clássicos e a habilidade de aceder rapidamente à alma quer de um leitor miúdo quer de um leitor graúdo, bastando para isso que seja um pouquinho sensível e esteja preparado para ver o mundo através dos olhos de uma criança muito, mas muito especial, uma autêntica pestinha com um coração de ouro e uma inteligência nunca vistos num corpo de cinco anos....
 
Fica aqui um excerto:
 
«- Olhe, Titio, quando eu era pequenininho eu achava que tinha um passarinho aqui dentro e que cantava. Era ele que cantava.
- Pois então. É uma maravilha que você tenha um passarinho assim.
- O senhor não entendeu. É que agora eu ando meio desconfiado com o passarinho. E quando eu falo e vejo por dentro?
Ele entendeu e riu da minha confusão.
- Vou explicar para você, Zezé. Sabe o que é isso? Isso significa que você está crescendo. E crescendo, essa coisa que você diz que fala e vê chama-se o pensamento. O pensamento é que faz aquilo que uma vez eu disse que você teria logo...
- A idade da razão?
- Bom que você se lembre. Então acontece uma maravilha. O pensamento cresce, cresce e toma conta de toda a nossa cabeça e nosso coração. Vive em nossos olhos e em tudo que é pedaço da vida da gente.
- Sei. E o passarinho?
- O passarinho foi feito por Deus para ajudar as criancinhas a descobrirem as coisas. Depois então quando o menino não precisa mais, ele devolve o passarinho a Deus. E Deus coloca ele em outro menininho inteligente como você. Não é bonito?
Eu ri, feliz, porque estava tendo um ´´pensamento´´.»
 
É bonito sim. Muito. E gosto tanto dos diminutivos «pequenininho» e «menininho»...
 
(Excerto de Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, Livros Dinapress, páginas 67 e 68. A imagem é de Google.)
 
 
 
 

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