sábado, 28 de setembro de 2013

Das minhas leituras

Sobre a espera...
 
Eu ainda não me debrucei sobre nenhum livro de Gonçalo M. Tavares. Ainda. Mas para lá irei mal seja possível. Por aqui, há uma vergonhosa lista em espera e, apesar de até ler a um bom ritmo e ir despachando um livrinho atrás do outro, é preciso ler com tempo, pensando sobre o que nos é dito, por isso, não consigo fazer todas as leituras que ambiciono assim tão rapidamente. No entanto, vou lendo as crónicas que Gonçalo M. Tavares escreve na Visão, o suficiente para perceber que é um escritor válido, um escritor pertinente. 
 
Na revista desta semana, GMT fala da espera. Num mundo de aceleração como este em que vivemos, achei interessante alguém parar para refletir sobre algo que acaba por ser inerente à condição humana, se pensarmos que, a partir do momento em que nascemos (até, talvez, do momento em que somos concebidos), estamos naturalmente à espera da morte... Mas essa é a Grande Espera. Entretanto, temos de aprender a lidar com outras esperas, as pequenas esperas do dia a dia, as quye nos impomos a nós próprios, as que são impostas pelos outros.
 
«O que se deve fazer enquanto se espera? É uma pergunta sensata. A sensata resposta é, de imediato: nunca fazer outra coisa. Se é para esperar, esperamos - não lemos, não vemos televisão, não abrimos o computador, não telefonamos - esperamos, apenas. Se quem espera está a fazer outra coisa, então não está verdadeiramente a esperar - está a fazer outra coisa. Pois, portanto, esperemos. Esperar é, assim, um verbo, uma ação, uma atividade, é uma coisa que tem de ser feita - não é um vazio que tem de ser preenchido com outra tarefa. Esperar é a tarefa. É a tarefa de quem espera. A arte de esperar eis, portanto, o que me parece urgente desenvolver. Há pessoas que sabem esperar, há pessoas que não sabem esperar. E a forma de aprender a Grande Espera é começar a treinar a pequena espera (esperar por alguém no café; esperar pela nossa vez para sermos atendidos, etc.). O que é a Grande Espera? É esperar pela morte. Estar vivo em parte é isto (é também muitas outras coisas, claro): é saber o que fazer enquanto se está por completo na Grande Espera. Há pessoas que sabem esperar a Grande espera, há pessoas que não.»
 
(Excerto da crónica «Vinte anos», de Gonçalo M. Tavares, Visão de 26 de setembro a 2 de outubro, página 10; a imagem é de Google.)
 
 

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