Eu ainda não li nenhum romance de António Lobo Antunes. Ainda não li nenhum daqueles livros que, pelo que ouço, justificam que este escritor luso já tivesse sido, ou venha a ser, um prémio Nobel. No entanto, gosto dele. Gosto pelas crónicas que escreve semanalmente na revista Visão e, acima de tudo, pelas entrevistas que vai dando, ora na televisão ora em revistas ou jornais, e onde sempre me surpreende pela positiva. A verdade é que se aprende tanto, ouvindo-o. Na Visão desta semana, tive mais uma oportunidade de ler uma entrevista sua, bem longa e rica também. Totalmente recomendável. Claro que há variadas passagens que podiam ser alvo de uma publicação aqui ou no facebook, mas decidi destacar uma que me fez lembrar algo de que se falou, há pouquíssimo tempo, num jantar de amigas e que tem a ver com a minha preocupação relativamente às poucas coisas que, até agora, fiz na vida. Uma vida muito simples, provavelmente, resumível numa frase. E já lá vão 39 anos de quase nada. Trata-se de um excerto em que Lobo Antunes recorda um encontro com George Steiner. E reza assim:
«Passei uma tarde maravilhosa, foi tão bom, um prazer intenso, ele tinha em casa o piano do Darwin e cartas do Freud para o pai... Em Harvard, o gabinete dele ficava ao pé do de um grande físico, um homem de grande beleza, com um cachimbo, e que toda a gente tentava imitar os gestos e tal. Uma vez, Steiner ouvi-o a dar uma descompostura a um outro físico: «Como é que você que é tão novo ainda fez tão pouco?». Como é que você que é tão novo ainda fez tão pouco... É extraordinário.»
Isto fez-me sorrir e franzir o sobrolho também. De certo modo, é um pouquito duro de ouvir, mas, ao mesmo tempo, é apenas uma verdade de que não se pode fugir. Não se é jovem demais para se fazer coisas. É na juventude que se acumula o que, na velhice, será encarado como toda a experiência de uma vida plenamente vivida. E se deixamos o tempo passar, à velocidade que ele vai, fica difícil aproveitá-lo bem.
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