É tão bom quando estou a ler e tenho aquela sensação estranha de sintonia total com o pensamento de um autor. Parece que me conhece por dentro, que as suas palavras ecoam o que eu própria sou, que escreveu aquilo para mim, que está a falar mesmo comigo ou até de mim...
«Trava-se em mim de há muito uma luta com a morte, e paira sobre ela a vergonha humana de ter medo. Quando às vezes chego a encarar a morte sorrindo, sem o mais ínfimo desgosto ou receio, sinto-me, por momentos, orgulhoso e feliz. E é então que respiro por todos os sentidos a lúcida alegria de viver.»
«Parece que vivemos sem dar por isso e às vezes - perante a morte - acordamos, para logo tornar a sonhar este sonho mesquinho. A mim, já me custa voltar à anestesia. Penso demasiado no transitório da vida. E isso sufoca-me à nascença todos os ímpetos. Temos de nos esquecer, não há dúvida, de que isto é uma grande lotaria, uma coisa cruel e absurda. Como se nos figuram irrisórios os projetos e os desgostos, quando imaginamos os que já morreram e os que morrem todos os dias. O amor, a ação, a embriaguez - eis os anestésicos. Ou a fé, para quem a tenha.»
(Os excertos são de Urbano Tavares Rodrigues, De Florença a Nova Iorque, p.87; a imagem é do Google, uma pintura intitulada «Couple Riding-Black and Violet», de Wassily Kandinsky, 1906.)

Sem comentários:
Enviar um comentário