segunda-feira, 30 de setembro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Sonoridades

É impossível não falar novamente do concerto de ontem à noite. Eu já assisti ao vivo a alguns concertos de fadistas maravilhosas, como Mariza, Cátia Guerreiro, Cristina Branco, Carminho, e cada uma delas me impressionou à sua maneira, deixando cá dentro um cada vez maior apreço por esta nossa canção património mundial da humanidade. Fui mesmo ganhando a certeza de que os fadistas não são todos iguais, não cantam todos da mesma maneira, mesmo quando partilham alguns dos mais reconhecidos fados, e a voz de Amália, por entre os versos e as notas, impõe-se aos ouvidos dos mais conhecedores e atentos.  A verdade é que estas fadistas (e outros, como Gisela João, Camané,...) têm mostrado que são contributos relevantes para o fado que se canta no século XXI e que, graças a elas, se continuará a cantar e a ouvir pelos anos vindouros. No entanto, a Ana Moura excedeu todas as minhas expetativas. Arrepiou-me. A sua voz é de uma vibração, de uma sensualidade, de um calor, de um intimismo, de uma harmonia e força... singulares. Ela aqueceu o Teatro, o coração e a alma de uma audiência muito interessada, muito atenta e, principalmente, expectante. Falo por mim. E não defraudou, surpreendeu, emocionou. É caso para se dizer «Ainda é melhor ao vivo...». Acho mesmo que não será exagero afirmar que esta mulher eleva o fado a outra dimensão, onde reconhecemos a tradição, sem dúvida, mas também uma contemporaneidade que cativa sobremaneira.

Foi mais um concerto memorável. E eu trouxe comigo este «Amor Afoito»...
 
 
 
 

sábado, 28 de setembro de 2013

Sonoridades

É já logo à noite o concerto de Ana Moura no Teatro Micaelense. Ela vai trazer-nos «Desfado» e as expetativas são muitas. Em modo de pré-audição, fica aqui «A case of you» como proposta de banda sonora. A minha versão favorita é, sem dúvida, a de Joni Mitchell, mas a fadista portuguesa também não se sai nada mal...





Das minhas leituras

Sobre a espera...
 
Eu ainda não me debrucei sobre nenhum livro de Gonçalo M. Tavares. Ainda. Mas para lá irei mal seja possível. Por aqui, há uma vergonhosa lista em espera e, apesar de até ler a um bom ritmo e ir despachando um livrinho atrás do outro, é preciso ler com tempo, pensando sobre o que nos é dito, por isso, não consigo fazer todas as leituras que ambiciono assim tão rapidamente. No entanto, vou lendo as crónicas que Gonçalo M. Tavares escreve na Visão, o suficiente para perceber que é um escritor válido, um escritor pertinente. 
 
Na revista desta semana, GMT fala da espera. Num mundo de aceleração como este em que vivemos, achei interessante alguém parar para refletir sobre algo que acaba por ser inerente à condição humana, se pensarmos que, a partir do momento em que nascemos (até, talvez, do momento em que somos concebidos), estamos naturalmente à espera da morte... Mas essa é a Grande Espera. Entretanto, temos de aprender a lidar com outras esperas, as pequenas esperas do dia a dia, as quye nos impomos a nós próprios, as que são impostas pelos outros.
 
«O que se deve fazer enquanto se espera? É uma pergunta sensata. A sensata resposta é, de imediato: nunca fazer outra coisa. Se é para esperar, esperamos - não lemos, não vemos televisão, não abrimos o computador, não telefonamos - esperamos, apenas. Se quem espera está a fazer outra coisa, então não está verdadeiramente a esperar - está a fazer outra coisa. Pois, portanto, esperemos. Esperar é, assim, um verbo, uma ação, uma atividade, é uma coisa que tem de ser feita - não é um vazio que tem de ser preenchido com outra tarefa. Esperar é a tarefa. É a tarefa de quem espera. A arte de esperar eis, portanto, o que me parece urgente desenvolver. Há pessoas que sabem esperar, há pessoas que não sabem esperar. E a forma de aprender a Grande Espera é começar a treinar a pequena espera (esperar por alguém no café; esperar pela nossa vez para sermos atendidos, etc.). O que é a Grande Espera? É esperar pela morte. Estar vivo em parte é isto (é também muitas outras coisas, claro): é saber o que fazer enquanto se está por completo na Grande Espera. Há pessoas que sabem esperar a Grande espera, há pessoas que não.»
 
(Excerto da crónica «Vinte anos», de Gonçalo M. Tavares, Visão de 26 de setembro a 2 de outubro, página 10; a imagem é de Google.)
 
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Perfeito...

Quando olhei para esta foto na página de Facebook de «The eyes of children around the world», lembrei-me imediatamente do texto poético de Almada Negreiros intitulado «A Flor», que já andava adormecido nos confins da minha memória, mas, pelos vistos, despertou à aparição destas três meninas deliciosamente concentradas em alguma coisa ou em alguém... Achei perfeita a associação...


«Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão de...licadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!»

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sonoridades

Proponho a faixa «Cure for pain», do álbum com o mesmo nome da banda Morphine. Já não é recente, é de 1993, mas continua atualíssima na sonoridade fantástica da melodia e na letra, claro. É que a ciência ainda não tratou de resolver a questão da «cura para a dor» de natureza vária que, com demasiada frequência, enche alguns dos nossos dias de um cinzento difícil de dissipar.... Um dia, quem sabe??? Por agora, vai-se adocicando esses momentos com os sons de uma banda alternativa que soube bem combinar jazz, blues e rock...




sábado, 21 de setembro de 2013

Das minhas leituras

Zezé, Glória, Jandira e o pé de laranja lima chamado carinhosamente de Minguinho, e ainda mais carinhosamente de Xururuca,  perduraram no meu imaginário desde que, em criança, segui, pela televisão e religiosamente, a série brasileira «Meu Pé de Laranja Lima». No entanto, não sei porquê, passados tantos anos de me ter deliciado com a história de Zezé, ainda não tinha tirado um tempinho para ler o livro de José Mauro de Vasconcelos que serviu de inspiração à adaptação televisiva.
 
O momento chegou e, desde há uns meros dois dias, ando a ler sofregamente o livro, aproveitando cada minutinho morto dos intervalos na escola e das horas de descanso em casa. Estou a meio e já deu para perceber que é um livro de uma ternura gigantesca, um livro que tem a capacidade de nos emocionar e também de nos fazer rir. Escrita numa expressão bem espontânea do português brasileiro, a história do menino reguila que tantas vezes levava sovas «de caixão à cova» traz consigo a intemporalidade dos clássicos e a habilidade de aceder rapidamente à alma quer de um leitor miúdo quer de um leitor graúdo, bastando para isso que seja um pouquinho sensível e esteja preparado para ver o mundo através dos olhos de uma criança muito, mas muito especial, uma autêntica pestinha com um coração de ouro e uma inteligência nunca vistos num corpo de cinco anos....
 
Fica aqui um excerto:
 
«- Olhe, Titio, quando eu era pequenininho eu achava que tinha um passarinho aqui dentro e que cantava. Era ele que cantava.
- Pois então. É uma maravilha que você tenha um passarinho assim.
- O senhor não entendeu. É que agora eu ando meio desconfiado com o passarinho. E quando eu falo e vejo por dentro?
Ele entendeu e riu da minha confusão.
- Vou explicar para você, Zezé. Sabe o que é isso? Isso significa que você está crescendo. E crescendo, essa coisa que você diz que fala e vê chama-se o pensamento. O pensamento é que faz aquilo que uma vez eu disse que você teria logo...
- A idade da razão?
- Bom que você se lembre. Então acontece uma maravilha. O pensamento cresce, cresce e toma conta de toda a nossa cabeça e nosso coração. Vive em nossos olhos e em tudo que é pedaço da vida da gente.
- Sei. E o passarinho?
- O passarinho foi feito por Deus para ajudar as criancinhas a descobrirem as coisas. Depois então quando o menino não precisa mais, ele devolve o passarinho a Deus. E Deus coloca ele em outro menininho inteligente como você. Não é bonito?
Eu ri, feliz, porque estava tendo um ´´pensamento´´.»
 
É bonito sim. Muito. E gosto tanto dos diminutivos «pequenininho» e «menininho»...
 
(Excerto de Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, Livros Dinapress, páginas 67 e 68. A imagem é de Google.)
 
 
 
 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Entender a música

Acho que vale a pena tirar uns minutinhos para ver este vídeo...


Cinema

Das frases mais significativas que terminam uma história...

«Sempre haverá o tempo entre nós, sempre haverá o amor, o amor e as horas.»
 
 
 



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sonoridades

 
Este «Altar particular», um samba bem triste de Maria  Gadú, cantora e compositora brasileira, é de 2009. No entanto, só veio parar aos meus ouvidos há muito pouco tempo e tem-me feito companhia sempre que possível. É que nem sempre é fácil ouvi-lo, embora seja de uma imensa beleza...
 
 
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

É daquelas frases...

... das frases que se impõem.

Deve ser defeito ganho com a formação académica este meu frequente hábito de ficar com uma frase na cabeça depois de ouvir uma entrevista, assistir a um concerto, a um filme ou, como desta vez, a uma peça de tea...tro. É um problema que não me incomoda, mas, dependente do lugar onde estou, cria uma certa ansiedade na busca de um meio para registar... a tal frase, a que se impôs, e que não posso perder. Foi o que aconteceu sábado passado, enquanto assistia à apresentação da peça teatral «Luto», com texto de Rui Neto, no Teatro Micaelense. A frase, de sentidos plurais, foi apaixonadamente proferida pelo ator Miguel Damião, e deixo-a por aqui, a ver se faz eco em mais alguma alma...

«Trago a morte de Deus na ponta dos dedos.»

Quanto mais atormentado, mais o ser humano se torna poeticamente profícuo. Se o amor e a paixão inspiram, a morte e a incapacidade para dela nos libertarmos também são terrenos artisticamente férteis. E aqui, nesta frase de Rui Neto, a morte como condição «sine qua non» de SER HOMEM, mas também como o desfecho inevitável da própria narrativa religiosa por ele criada numa vã tentativa de alcançar a segurança da imortalidade.

(A foto é do Google: Miguel Damião no Teatro Micaelense a apresentar «Luto».)
 





segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Feliz Ano Letivo Novo!!!!

Recomeço sempre com a esperança de conseguir realizar este feito grandioso: «A arte mais importante do professor é a de despertar a alegria pelo trabalho e pelo conhecimento.», Albert Einstein.
 
 
 
 
(A foto é de «The eyes of children around the world», uma página do facebook que adoro; a citação foi transcrita do Citador, também do facebook.)

domingo, 15 de setembro de 2013

É daquelas frases...

Não sei se é da idade que vai chegando e da (alguma) experiência que, inevitavelmente, carrega consigo...., mas este pensamento passou por mim na página de um blogue qualquer há já uns tempinhos e agarrou-se de tal modo à alma que tive de o abrigar no meu ambiente de trabalho e ir matutando quase diariamente na imensa sabedoria que encerra. É que é mesmo verdade... Mesmo.
 
 

sábado, 14 de setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Liberdade a dois

É frequente encontar pela net fotografias que, por alguma razão, me apaixonam e guardo-as sempre, para o caso de vir a precisar. A verdade é que o Facebook e este blogue acabam por ser espaços onde posso dar algum uso a essas fotografias que me vão cativando e, portanto, faz-me todo o sentido não as perder de vista...
 
Como é óbvio, uma boa foto poderia, por si só, justificar uma publicação aqui, mas a fotografia em questão andava até meio esquecidinha na pasta onde vou acumulando espólio fotográfico que não é da minha autoria e, apesar de interessante, não me parecia ter conteúdo suficiente para ser divulgada.
No entanto, hoje, no momento em que li o poema «Namorados de Lisboa», de Natália Correia, publicado num perfil a propósito dos 90 anos do nascimento da poeta que detestava ser chamada de poetisa,  a última estrofe fez-me de imediato pensar na foto dos dois jovens e uma bicicleta que guardara, e não hesitei em ir buscá-la. É certo que não se trata de Lisboa, mas há, nesta foto,  um cativante ênfase nos DOIS e na ideia de LIBERDADE, que o cenário isolado e a estrada imprimem.

E aqui têm: uma foto do Google, de autor anónimo, associada a uma estrofe de Natália Correia no aniversário do seu nascimento. Parece-me perfeito.

 «da liberdade de sermos dois
  a máquina de fazer púrpura
  que em todas as coisas fermenta
  seu tácito sumo de uva.»

(Natália Correia, «Namorados Lisboetas», in «O Vinho e a Lira». A foto é de Google.)



Sonoridades

Como banda sonora, proponho para hoje «Falcon», dos portugueses «Minta and the Brook Trout». Alto!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sobre a desilusão

Mãe, eu quero ir-me embora — a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram —
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora — os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim — tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora — nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique —
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito
como uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora — esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua — a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

(O poema é de Maria do Rosário Pedreira. A foto é minha.)




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um pensamento por dia

Eu detesto a partilha compulsiva de citações que abunda lá para os lados do Facebook. Refiro-me àquelas frases feitas que já estão prontinhas para aviar, emolduradas em quadrozinhos, alguns sóbrios, outros ostentando criancinhas sorridentes e de chapéus de palha, ou adornados com motivos fantasiosos e de brilhos ofuscantes . Há quem o faça a toda a hora, sem se cansar, partilhando todo o tipo de afirmações - alegres, tristes, trágicas, cómicas, inteligentes, estúpidas, assustadoras, reconfortantes, lógicas, sem sentido, ... - de autores também diversos e, muitas vezes, sem sequer se questionar se aquele pensamento será realmente da responsabilidade da pessoa ali indicada. E a verdade é que, por vezes, não é!

Mas a questão que me coloco tem mais a ver com a quantidade do que propriamente com a qualidade. Já ninguém sabe o que significa «Pensamento do dia»? Sim, gente, PENSAMENTO no singular! Um só! «Unzinho»!!! Para podermos lê-lo com vagar, digeri-lo bem, andarmos a remoê-lo o resto do dia, talvez partilhá-lo ao almoço ou ao café com um amigo e, quem sabe, partir daí para uma boa reflexão ou até uma discussão saudável? Um pensamento por dia é suficiente, pessoas!!! Não tenham pressa!! Para quê tanta sofreguidão na publicação de pensamentos?? Até porque cada um vós não teve a ideia sozinho! Outros também viram um quadrozinho com uma citação e não hesitaram em divulgá-lo. O exagero de pensamentos partilhados por uma mesma pessoa gera confusão, banaliza as ideias e desvaloriza a intenção reflexiva que, até, poderia estar por detrás de tal partilha!

Tendo isto em conta, decidi deixar aqui UM pensamento que hoje me obrigou a parar para refletir sobre ele, e o resultado foi um pequeno sorriso. Sim um pequeno sorriso, o sorriso de quem pensou sobre o que leu, compreendeu e guardou, de tanto sentido que fez. Não sei se o autor é mesmo este, mas, por agora, vou confiar que sim.



 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cultura

Para dizer a verdade, fiquei dececionada com as propostas culturais do Teatro Micaelense para os próximos meses. Ou se calhar sou eu que espero sempre mais do que pode ser. Destacam-se os concertos de Ana Moura, já este mês, e de Luísa Sobral, que eu já aguardava, em dezembro. É de louvar, neste cartaz, o espaço que o Teatro dá à música que se faz pelos Açores e a variedade que tenta imprimir à programação cultural, de modo a abarcar diversas artes e públicos. Contudo, também é evidente a pobreza do festival Jazzores, que está reduzido a dois concertos, num sábado e num domingo, e não apresenta nomes de grande relevância. Não era suposto este festival enriquecer-se de ano para ano, tornando-se cada vez mais relevante? Parece-me que está a acontecer exatamente o contrário, comparando com outros anos... Será consequência do desinteresse do público? Provavelmente. Mas há outras questões que me assolam: quando teremos António Zambujo no palco do Micaelense?? O homem está a envelhecer, gente, e nada!! E o Samuel Úria, que anda por aí a encantar, não tem disponibilidade para nos dar uns ares de sua graça?? E a Gisela João, que está a dar cartas no fado?? E não há talentos estrangeiros que queiram vir cá?? Ninguém? Bom, se calhar, em 2014, teremos surpresas boas. 2013 começou muito bem, oferecendo-nos, nos primeiros seis meses, Dead Combo, Brad Mehldau, Adriana Calcanhoto, Rodrigo Leão, Deolinda, o que foi muito bom mesmo, portanto, agora, é esperar e ir desfrutando do que o Teatro ainda nos vai proporcionando.
 
(Foto da agenda cultural do Teatro Micaelense retirada da página de Facebook )
 
 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Egoplanos e sonoridades!

Hoje, amanheci um pouco egoísta. É o início de um fim de semana que, provavelmente, será o último com liberdade total, porque os próximos estarão sempre sobrecarregados com as obrigações profissionais. Então, hoje, amanhã e depois, só pensarei em mim em cada segundo do dia e farei o que me der na real gana, começando exatamente agora.
 
A proposta de banda sonora fica entregue a Okkervil River,  com este «It was my season», porque me alegra!!! É para ouvir bem alto, claro!!!
 
 
 


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Das minhas leituras...

APOLOGIA DA MANHÃ

Se eu gosto de acordar cedo? Sim. Se adoro manhãs bem aproveitadas, de preferência, ao ar livre? Sem dúvida. Se amo as cores da natureza ao amanhecer de um dia cheio de sol? Claro. Se me apaixona ver uma cidade a acordar? Decididamente. Se sou capaz de ver a beleza e sentir o aconchego de uma manhã cinzenta e chuvosa? Oh! Não duvidem. Se já sorri perante uma manhã cheia de bruma e friorenta? Podem crer que sim. Se já tinha refletido sobre a MANHÃ nos mesmos termos que Henry David Thoreau o faz em «Walden ou a vida nos bosques», publicado em 1854? Não...

 
«A manhã, o período mais memorável do dia, é a hora do despertar. Há então menos sonolência em nós; e pelo menos durante uma hora, parte de nós, que dormita o resto do dia e da noite, desperta.»
«(…) todos os acontecimentos memoráveis sucedem de manhã, em atmosfera matutina. Os Vedas dizem: «Todas as inteligências acordam com a manhã.» Poesia e arte, assim como as mais belas e relembradas ações humanas, datam dessa hora. Todos os poetas e heróis, como Memnon, são filhos da Aurora e emitem as suas músicas ao raiar do sol. Para aquele cujos pensamentos flexíveis e vigorosos acompanham o ritmo do Sol, o dia é uma perpétua manhã. Não importa o que dizem os relógios ou as atitudes e ocupações dos homens. É manhã quando acordo e há em mim um amanhecer.»
 
(Excertos das pp. 106 e 107 de Walden, Henry David Thoreau, editora Antígona; Foto de Google)
 

 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Viajar sem sair do lugar

Podemos fazê-lo de muitas maneiras...

a ler,
a observar um quadro da nossa sala, 
a rever os postais que se vão acumulando na gaveta,
a navegar na net,
a ver televisão,
a ouvir uma música,
a folhear o catálogo de um operador turístico,
a olhar o mar,
a contar estrelas,
a dormir,
a ouvir alguém que nos fala sobre a sua última experiência de viajante,
a fazer planos,
de olhos fechados ou...
na casa de banho, enquanto lavamos os dentes e vamos espiando a cortina da banheira... Eheheh!

Obrigada, C., ficou perfeito!



E como banda sonora quase perfeita também, evitando cair em cantilenas já muito conhecidas, proponho «Moon over Manhattan», de Lucy Kaplansky. Vejam lá se não nos leva para lá...


Sonoridades...

Hoje, proponho como banda sonora a música «No habrá nadie en el mundo», da cantora espanhola Concha Buika. Descobri esta senhora há relativamente pouco tempo e agradou-me desde logo a sua voz envolvente e poderosa, assim como as melodias sensuais, algumas mais sofridas e melancólicas, mas todas elas repletas de uma energia boa que tem origem na mistura de diferentes sonoridades: o flamenco, o jazz e o soul! Uma mistura fantástica e com um resultado singular!! Para ouvir alto, sem dúvida!!
 
 
 
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

setembro


Lembram-se da flor «Meninas para a escola?»

Quando eu própria era menina, não conseguia ver beleza nesta flor. Ela sempre me recordava de que a escola voltava a espreitar e as «férias grandes» começavam a dizer-me adeus.

Hoje, acordei com uma sensação semelhante, a sensação de que setembro tem sempre um sabor agridoce, o sabor doce dos recomeços, do iniciar de um novo ciclo, e o sabor amargo do fim de algo que foi tããããooo bom e que eu queria prolongar só mais um pouquinho...
 
(Foto de Google)
 
 

domingo, 1 de setembro de 2013

Cinema

Agora que Ponta Delgada está a poucos dias de voltar a ter um cinema com estreias semanais, o que me deixa contente, fica aqui a sugestão de dois filmes que aproveitei para ver em Lisboa e que, em comum, apenas têm a França e a língua francesa.

O primeiro, «A Gaiola Dourada», já havia estreado em Ponta Delgada, numa sessão única que decorreu no Teatro Micaelense aquando do Festival Internacional de Cinema «Panazorean», realizado no passado mês de abril. Este filme de Ruben Alves vale pela fidelidade com que retrata os imigrantes portugueses que vivem em Paris, assim como pelo trabalho de representação de Joaquim Almeida e de Rita Blanco, que seduzem pela naturalidade e verosimilhança com que encarnam os portugueses Maria e José Ribeiro. É um filme engraçado, coerente, que cativa com os seus diálogos, com os acontecimentos que nos vão prendendo e com a própria variedade de personagens.

Quanto à segunda proposta, o filme «Dentro de Casa», de François Ozon, não agradará a toda a gente! É um pouco complexo e, na minha opinião, nem sempre convence, quer no que respeita às prestações dos atores quer no que se refere à coerência do próprio argumento. Contudo, vale a pena pelo facto de apresentar a escrita de um romance como um trabalho que depende em muito da capacidade que um escritor tem de observar as vidas dos outros e passá-las para o papel, não da forma «desenxabida», pouco interessante, como a realidade, geralmente, as apresenta, mas recriando-as, transformando-as, através do desejo que nele essas mesmas vidas suscitam ou através do modo como o seduzem, como o envolvem. A atividade literária, ficcional,  surge assim como um exercício «voyeurista», e a intromissão no privado como uma obsessão que passa de um jovem aluno com talento para a escrita para o seu professor, um escritor frustrado...