segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Das minhas leituras...

Terminei esta leitura há pouco tempo e fi-la por mero acaso. No entanto, valeu a pena por me ter feito pensar sobre um tema tão a propósito: a política e o atual descrédito em que mergulhou. Numa altura em que, por diversas vezes, já me passou pela cabeça que o mundo passava bem sem política e políticos, Innerarity fez-me perceber que o mundo precisa e muito! de uma política eficaz, livre de corrupção, com capacidade para ser força de inovação e de transformação, sendo mesmo impossível dissociar uma democracia saudável de uma política competente. E é de eficácia que, em última análise, este filósofo fala, mostrando que a eficácia da política e dos seus agentes políticos passa por decisões direcionadas para o futuro, ou seja, o «porvir», para o longo prazo e não apenas para o curto prazo, para o tempo de legislatura, para a urgência do presente, dos mercados, negligenciando as consequências que advirão para as gerações vindouras. Aliás, a crise que estamos a viver não é mais do que o futuro que resultou de uma visão política temporalmente limitada, o que significa que somos o futuro feito das consequências não prognosticadas no presente de outrora («Transformámos o futuro na lixeira do presente.»). Assim, neste livro, aos conceitos de DEMOCRACIA e de FUTURO, Innerarity alia os de TEMPO, RESPONSABILIDADE, PROGRESSO e ESPERANÇA, que devem ser repensados e renovados, se quisermos atuar eficazmente sobre o mundo que temos e tornarmo-nos capazes de configurar o futuro que desejamos, imaginando-o, pensando-o, projetando-o e construindo-o, através de uma política renovada, que não deixa o «porvir» ao acaso, que age sobre ele e é capaz de transformar em oportunidade a incerteza que caracteriza o que nos espera.

Fica aqui um excerto…

«O problema das nossas democracias reside em o antagonismo político estar absorvido pelo presente. Vamos vivendo à custa do futuro, numa completa irresponsabilidade em relação a ele. A lógica do just in time e do curto prazo manifesta-se em fenómenos muito variados: na hegemonia da lógica dos mercados financeiros, que se impõe acima de outras dimensões da economia; na pressão exercida pelo tempo dos meios de comunicação, perante a qual o sistema político mostra uma preocupante vulnerabilidade; no sensacionalismo que antepõe o espectacular e o catastrófico, por exemplo, ao apoio ao desenvolvimento; na concepção instantaneísta da democracia, que se manifesta na influência exercida nas decisões políticas pelos prazos eleitorais… A lógica do urgente desestrutura a nossa relação com o tempo, sempre subordinado ao momento presente. É neste contexto que se inserem a falta de ambição colectiva das nossas sociedades, a extenuação do desejo, o nosso medo difuso, o retrair-se para os interesses individuais, a carência de perspectivas.» (p. 12)

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