quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sonoridades

Descobri esta voz há relativamente pouco tempo e ando a conhecê-la devagarzinho... O seu dono é Gregory Porter. Sei que deu dois concertos em Portugal no início de outubro, um em Lisboa e o outro no Porto, e que tem feito muitos fãs. Eu gosto especialmente desta «Hey Laura»...

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed...

Morreu ontem, embora, na verdade, não vá morrer nunca. Sei que é um lugar-comum dizer isto, mas não deixa de ser verdade. Morreu ontem, mas continuaremos a ouvi-lo hoje, amanhã, depois... Infelizmente, não tive a sorte de ouvi-lo ao vivo e a cores nos concertos que deu em Portugal, como membro dos «The Velvet Underground» e a solo. No entanto, incrivelmente, passei grande parte deste verão de 2013 a ouvir «Satellite of love», depois de a (re)encontrar numa cena de um filme que, entretanto e com pena minha, esqueci. (Mas hei de lembrar-me, com certeza.) É tão bonita. Fica por aqui...
 
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Estranhezas

E eu... que nem gosto de gatos... dei por mim a sorrir diante deste...




 
 
    (A foto é da página «Cultura Inquieta»)

domingo, 20 de outubro de 2013

Sonoridades

Tantas são as vezes que a pintura retrata, de algum modo, a música, ora fazendo desta o seu tema, ora mesmo fazendo desta as suas cores primárias. No segundo caso, a relação pode não ser muito óbvia e há que ter sensibilidade para se chegar lá, se calhar, até algum conhecimento técnico. No primeiro caso, é bem mais fácil, pois evidenciam-se os motivos relacionados com a arte do ritmo e da melodia e também com a própria dança, visto que esta mantém com a música a intimidade já sobejamente conhecida. As telas abaixo são exemplos de como a pintura pode ter sonoridades variadas...



 (Ildyukov Oleg)

 (Alexander Hodyukov)

 (Maya Green)

 (Iván Slavinsky)

 (Willem Haenraets)

(Todas as imagens foram retiradas da página «Open Art» do Facebook)

sábado, 19 de outubro de 2013

Cinema

«TO THE WONDER»...

«A essência do amor» é o título português para este «To the wonder», de Terence Malick, realizador de «A árvore da vida». Quem já conhece sabe que os filmes de Malick são essencialmente poéticos, não narram linearmente uma história, mas, sem dúvida, fazem-nos senti-la. Os diálogos são raros, privilegiando a voz off, como se, mais do que o que as personagens dizem, importe saber o que elas sentem, o que elas pensam, enquanto narradoras da sua própria história. E é esta a sensação que temos ao longo dos filmes de Malick, de que estamos dentro das personagens, a seguir as suas emoções, os seus pensamentos mais íntimos. E, depois, a música, sempre a música, e a constante coreografia que parece marcar a maioria dos movimentos das personagens. E também a manhã, sempre a amanhecer, o pôr do sol, sempre a anoitecer, e as árvores sem folhas... A natureza também é poetizada.

E são estes os ingredientes do realizador: a poesia, porque cada frase dita podia ser o verso de um poema, a música, que completa o ambiente lírico, a dança e a fotografia, já que cada plano é feito para emoldurar. Os outros três ingredientes são o Amor, Deus e o Sofrimento, essência do SER humano. Se em «Tree of life», falava-se do sofrimento decorrente da morte de um filho e questionava-se Deus à conta de permitir que tal fosse possível, neste «To the Wonder», volta-se a questionar Deus pelo facto de o amor poder morrer, o amor entre um homem e uma mulher que casaram e deparam-se com o declínio da relação, o amor de um padre que, diante do sofrimento e da desgraça dos outros, que nele se apoiam, sente que o seu amor se vai esgotando. O amor que ele pensava provir de uma fonte inesgotável... a divina. Se a mulher culpa o homem pelo fim do amor, o padre culpa Deus pelo facto de a realidade humana não espelhar o divino e ele não conseguir encontrar Deus em parte nenhuma.

Mas há uma frase (entre outras) que me ficou e, se calhar, sintetiza a essência do amor: «Quero manter o teu nome.». Se puderem, vejam.
 
 
(Aspeto negativo: Ben Affleck...)
 
 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Das minhas leituras

É tão bom quando estou a ler e tenho aquela sensação estranha de sintonia total com o pensamento de um autor. Parece que me conhece por dentro, que as suas palavras ecoam o que eu própria sou, que escreveu aquilo para mim, que está a falar mesmo comigo ou até de mim...
 
«Trava-se em mim de há muito uma luta com a morte, e paira sobre ela a vergonha humana de ter medo. Quando às vezes chego a encarar a morte sorrindo, sem o mais ínfimo desgosto ou receio, sinto-me, por momentos, orgulhoso e feliz. E é então que respiro por todos os sentidos a lúcida alegria de viver.»
 
«Parece que vivemos sem dar por isso e às vezes - perante a morte - acordamos, para logo tornar a sonhar este sonho mesquinho. A mim, já me custa voltar à anestesia. Penso demasiado no transitório da vida. E isso sufoca-me à nascença todos os ímpetos. Temos de nos esquecer, não há dúvida, de que isto é uma grande lotaria, uma coisa cruel e absurda. Como se nos figuram irrisórios os projetos e os desgostos, quando imaginamos os que já morreram e os que morrem todos os dias. O amor, a ação, a embriaguez - eis os anestésicos. Ou a fé, para quem a tenha.»
 
 
 
 
(Os excertos são de Urbano Tavares Rodrigues, De Florença a Nova Iorque, p.87; a imagem é do Google, uma pintura intitulada «Couple Riding-Black and Violet», de Wassily Kandinsky, 1906.)
 
 
 

Sonoridades

Esta música é deliciosa, não é? Digam-me que sim. Hoje, não me apetece ser contrariada.
 
A verdade é que acho Feist uma cantora a necessitar da minha atenção há já algum tempo, mas, de vez em quando, disperso-me, encontro outras vozes, outras melodias, e deixo-me ir... O mundo da música é tão vasto, tão rico, na maioria das vezes, tão agradavelmente surpreendente, apaixonante mesmo, que me perco. Todavia, por agora, concentro-me neste plangente «I'm Sorry»...

sábado, 12 de outubro de 2013

Das minhas leituras

Ainda não tinha lido nada de Urbano Tavares Rodrigues. Decidi-me por este «De Florença a Nova Iorque» por ser um livro de viagens e porque, antes de Urbano, já havia Nova Iorque no meu universo íntimo. Depois, veio Florença... Ainda nem estou a meio do livro e já percebi que «viagens» aqui tem um sentido mais amplo, o sentido de andanças por «terras, homens e livros», tal como diz o próprio autor. Mais importante do que os lugares para onde nos leva são as pessoas e as ideias que, pelo caminho, ele (e nós!) vai conhecendo. Até agora, Paris, Londres, Lisboa, Albert Camus, Claudel, Alberto de Oiveira, António Nobre... O livro é, na verdade, uma coletânea de textos dispersos que foram publicados no «Diário de Lisboa». Têm, assim, uma natureza jornalística, mas não deixam dúvidas do seu pendor literário. Apesar de redigidos entre os anos 50 e 60, a escrita é deliciosa.
 
 
 
Fica aqui um excerto que, acho, legenda na perfeição umas fotos que tirei há pouco menos de um mês. Um acaso (e, já agora, um ocaso) feliz.

«Ontem, regressando de Lisboa com um fim de tarde que tingia de rosa as areias do Tejo. As velas, no rio, suaves, sulcando as águas roxas. Despedida de uma paisagem com a qual raramente comuniquei, por falta de serenidade de espírito. Ontem, cansado, banhei-me de entardecer. E assim levarei nos olhos para o Inverno as palmeiras e os pinheiritos dessorados e todo o cenário brando, até as casas pretensiosas que margeiam a via férrea. Tudo era lindo à hora em que as coisas adoecem de cor. Sobretudo os barcos, tão lentos, no rio, e o areal rosado, sem ninguém...»

(O excerto é de Urbano Tavares Rodrigues, «De Florença a Nova Iorque», p.86; as fotos são minhas.)
 
 
 
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Estranhezas

Eu, que não sou lá muito otimista, que não encaro de ânimo leve o longo prazo e que trago comigo alguns medos (mais ou menos fundamentados consoante a área que os estimula), tenho-me notado ultimamente cheiinha de vontade de fazer planos. Planos daqueles que antecipam cenários felizes, principalmente de viagens. Logo eu, que só costumo perder tempo com o futuro para antecipar desgraças e, por isso, muito raramente olho para lá ou planeio seja o que for... Muito estranho. Sinto-me mais ou menos assim... 
 
(As fotos são de «The eyes of children around the world»)
 
 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sonoridades

Fica aqui a Anne Brun e a sua interpretação de «Don't leave me», que já me faz companhia há uns meses e tem suavizado muitas das minhas horas. A letra é tão bonita, tocante mesmo; a voz torna a melodia ainda mais doce e emotiva. Acho que vale a pena conhecer a cantora, esta música e outras. Tem um repertório bastante variado e interessante...


domingo, 6 de outubro de 2013

Arte

O amor não é feito de dois adolescentes aos beijos e abraços frenéticos. O amor é feito de dois velhos, um homem e uma mulher encarquilhados de vida, provavelmente de olhar ausente, sentados num banco de um jardim...


«Não sei, amor, se dado nos será
de envelhecer. Será que um de nós só morrerá
quando formos tão velhos que para o outro
não faz diferença nenhuma que aquele morra
(na velhice se vive de memória vaga)?
Será que tantos anos de amargura,
suspeitas, frustrações, raivas e ódios,
tudo isso, tempestade, de que é feito o amor
que os burros não entendem, nos serão
acrescentados desse sonhar juntos
em silêncio, num sorriso (que se esquece
e mesmo nos lábios se ignora)?
Uma velhice que foi vida e será vida
porque foi vida com que nos comemos
quotidianamente um ao outro,
vorazes como peixes num aquário
de vidro inamovível, tão opaco,
translúcido, às vezes, transparente sempre,
que é o amor?»

11 de junho de 1971
Jorge de Sena, «Nocturno de Londres», Poesia III, Círculo de Poesia, Moraes Editores, pp. 198 e 199

Gustav Klimt, The Tree of Life, 1909

Perfeito

Na página 357 do livro Walden ou a vida nos bosques, de Henry David Thoreau,  é-nos dito que «Não é preciso dinheiro para comprar o indispensável à alma.»...


(A foto é de «The eyes of children around the world»; a passagem foi transcrita da edição da editora Antígona )


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sonoridades

A música portuguesa, de facto, está de muito boa saúde e RECOMENDA-SE. Fica aqui a proposta de audição deste «De cara a la Parede», d grupo A Naifa. O título desta música é igual a um de Lhasa de Sela. Não sei se há alguma relação... Espero que, um dia destes, A Naifa passe por cá...
 
 
 
Oiço ainda os corpos  vincar a noite
um campo minado
de corações tristes
explodindo o rosto na parede
foi talvez a nossa última canção
 
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela muitas músicas depois
foi talvez, a nossa última canção
 
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
 
um terrível verso solitário
e a culpa, de a ter levado
a um coração onde as canções
onde as canções
morreriam de frio
 
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste 
é uma casa difícil de habitar
 
 

Das minhas leituras


Realmente é majestosa esta ilha onde tenho a sorte de viver. Nos dias de sol, como hoje, pelos caminhos que me conduzem até aqui (ao meu lugar dentro do lugar tão meu, que já é S. Miguel), apercebo-me sempre do milagre que é esta paisagem que me rodeia. Uau... por mais que a veja, não me canso, por mais que a fotografe, não a esgoto. É verdade que, de vez em quando, sinto aquela salutar necessidade de me afastar e vê-la de longe, todavia, levo-a sempre comigo. Sempre. Aliás, acho que é só porque a carrego em mim que consigo realmente apreciar e absorver outros lugares... muito diferentes do meu, parecidos com o meu, mais modernos que o meu, quem sabe mais civilizados que o meu, ou até talvez mais bonitos também, mas certamente não tão familiares nem amados como o meu. Aos meus olhos, claro.

José Luís Peixoto fala dessa consciência do «meu lugar» numa crónica que foi publicada na «Visão» há relativamente pouco tempo e que eu já li e reli de tanto que gostei, de tanto que me identifiquei com esse sentir... Fica aqui, com algumas supressões.

«Quando era pequeno, rodava sobre mim próprio com as pontas dos pés. Rodar-rodar-rodar: as formas a saírem dos contornos, as cores a misturarem-se demasiado rápidas e, depois, ao parar de repente, o chão como um barco debaixo da tempestade, a paisagem inteira a oscilar desgovernada, eu a tentar equilibrar-me e, ao mesmo tempo, criança, a apreciar esse caos. A seguir, a pouco e pouco, o horizonte abrandava e voltava a fixar-se.

Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso.

Posso estar a falar com a minha mãe, como há dois dias atrás, e ela diz-me: aquele sobreiro que fica entre o campo da bola e o Monte da Torre. E, entre tantos, eu sei exactamente qual o sobreiro a que se refere. Essa é a precisão com que sei o meu lugar. As ruas, calcetadas com paralelos, suportam o meu pensamento desde que nasci. Em gestos largos, os muros são caiados anualmente porque o branco precisa de renovação, a pureza é uma tarefa permanente.
(...)
Entre o que me puxa de um lado e de outro, há o meu lugar a manter-me firme, a fornecer-me equilíbrio infinito. A diferença de forças é incomparável. Por isso, nunca me perco no mundo imenso.Levo comigo uma origem e um destino. Levo comigo um sentido. Irreversível como um mergulho, não me perturbo. Eu tenho um lugar. Sinto que lhe conheço cada detalhe e, no entanto, todos os dias o exploro e lhe encontro novidade. No meu lugar, os sinos do adro dão as horas.
(...)
Assim, estou preparado para atravessar o mundo inteiro. E, se mais mundo houver, mais mundo será tocado pela minha pele. Mi-nha pe-le, palavras pronunciadas sílaba a sílaba. E nenhum continente é demasiado grande ou demasiado estéril para me impedir de atravessá-lo. E nenhum detector de metais conseguirá identificar o tamanho e os ângulos do lugar que levo comigo: amor. Repito: amor.

Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso. (...)»

(O excerto é da crónica «O meu lugar», de José Luís Peixoto, in revista Visão de agosto, 2013; as fotos são minhas.)
 
 

 
 
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Arte

PARIS por Nadir Afonso...

                        


PARIS por Jay Jay Johanson...

 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Em Dia Mundial da Música...

...lembrei-me de um documentário sobre Arthur Rubinstein a que assisti há pouco tempo (infelizmente, não registei a data...), na RTP2. Arthur Rubinstein (1887-1982) foi um talentoso pianista polaco e judeu que se naturalizou americano e ficou conhecido pelas suas magníficas interpretações de Chopin e Brahms. Um homem que passou pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, mas que nunca perdeu o amor à vida, a crença na felicidade ou a paixão pela música clássica. O que me cativou nesse documentário não foi só a evidência musical do talento de Rubinstein, mas principalmente a forma como a peça conseguiu transmitir a jovialidade do seu ser, a alegria da sua postura perante a vida, apesar do passado de dor que, certamente, contribuiu para o envelhecimento do seu corpo, todavia, não da sua alma.

Deixo aqui algumas das frases que Rubinstein proferiu na entrevista incluída no documentário e que realçam a alegria com que encarava a vida . Também deixo um vídeo que atesta o seu virtuosismo na execução dos «Noturnos», de Chopin.

«Não há vida comparável a uma vida como a minha. Se me permitirem que diga algo quase indecente de presunção... nunca conheci de facto ninguém tão feliz quanto eu.»

«Sou um colecionador de momentos de eternidade.»

«Alguém me perguntou no outro dia: o senhor acredita na vida depois da morte? E eu disse-lhe: francamente, não... Mas, se houver, ficarei encantado, absolutamente encantado!»