Sempre achei que a Filosofia e a História surgem demasiado cedo nas nossas vidas, quando ainda não temos a maturidade para realmente assimilarmos os conhecimentos que nos proporcionam e entendermos a sua utilidade pela vida fora. Por isso, na maioria dos casos, tudo o que se aprende «fica pelo caminho», perde-se no tempo. No meu caso, embora tenha sido boa aluna (depois que Passos Coelho irrompeu na cena política, este conceito sofreu uma degradação semântica...) a História e a Filosofia, só muitos anos depois do ensino secundário é que realmente passei a olhar para estas duas disciplinas com outros olhos e comecei a sentir pena por não ter absorvido convenientemente (de modo sustentável, digamos) os saberes que me foram transmitidos. A minha História e a minha Filosofia não têm alicerces sólidos, por culpa da minha imaturidade na altura, mas também dos métodos de ensino que eram então utilizados, pois, diga-se a verdade, o verbo que melhor se conjugava nessas aulas era o «bocejar»...
É por esta razão que, atualmente, tenho tentado variar mais a natureza das minhas leituras. Tenho tentado evitar estar sempre no âmbito da ficção, do romance, que adoro, e intercalar com ensaios que tenham a ver com a Filosofia ou com a História. A última leitura fruto desta preocupação foi A Filosofia como uma das Belas Artes, de Daniel Innerarity, do qual já havia lido outro livro, que também apresentei neste blogue. Neste livrinho, o filósofo restitui à Filosofia o lugar fundamental que ela deve ocupar na sociedade, rejeitando a arrogância de se assumir como uma ciência ou de se considerar suficiente como perspetiva do mundo, atitude que a caracterizou e a descredibilizou outrora. Para Innerarity, a Filosofia está ao nível de artes como a Literatura e necessita de aceitar a sua natureza interdisciplinar. Ela não pode ser o único modo de encarar o mundo, ela é uma das maneiras de o fazer e complementa-se com as outras que existem.
Fica aqui um excerto:
«Os homens – entre os quais
figuram os filósofos – têm constantemente muitas relações com a realidade, das
quais uma – entre outras, é ou pode ser a filosofia. A cegueira – a corcunda
que é motivo de regozijo para os homens «práticos» - surge quando se reduz esta
pluralidade de relações com a realidade a uma única, porque isto conduz à perda
da realidade. Todos nós somos cidadãos de vários mundos, cada um dos quais
limita o poder dos outros e, deste modo, protegem-nos da agressão de uma única
relação com a realidade. Desta pluralidade depende a nossa liberdade. A
estupidez é o resultado de um ato de monopolização pelo qual uma destas
relações se converte em poder único. A própria filosofia é assim ridícula
quando – através de uma espécie de fundamentalismo filosófico – pretende fazer
da relação peculiar com a realidade que ela é um poder sem rival, uma relação
que exclui e substitui todas as outras. A sola filosofia é muito pouco sábia:
não tardará a acabar esgotada pelo esforço, e terá conquistado o receio das
suas antigas colaboradoras na tarefa de colocar o homem numa razoável trama de
relações.» (pp. 150/151 da edição da Teorema)


