Fazia parte de uma das «old
year's resolutions»: ler O Estrangeiro,
de Albert Camus. E foi bem mais rápido do que eu pensava. É um clássico, mas
tem menos de 118 páginas, está escrito numa linguagem muito escorreita,
acessível, despida o mais possível de roupagem estilística. Esta simplicidade reflete
bem o caráter do narrador e personagem principal, Marseult, que dá corpo a um
ser humano muito consciente da sua condição de mortal e do consequente absurdo
da vida, daí que se recuse a ter uma visão floreada e hipócrita do que o
rodeia, das pessoas com quem convive ou do que lhe acontece. Por este motivo, cada
frase proferida por Marseult é um murro no estômago do leitor. À primeira
vista, não parece ser uma perspetiva que se coadune com a nossa maneira de
pensar e, aí, se compreende que ele seja «o estrangeiro», no entanto, à medida
que os acontecimentos se vão desenrolando e outras personagens se vão
destacando, Marseult começa a parecer o menos estrangeiro, aquele que realmente vê a
vida como ela é.

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