Já fiz esta leitura há cerca de um ano, mas foi um livro de que gostei muito e, por, isso, de vez em quando, releio alguns dos excertos que transcrevi antes de o devolver à biblioteca pública. Trata-se de uma narrativa como eu gosto, bastante introspetiva, contada na primeira pessoa. O narrador e personagem principal, João Eduardo, é um ser humano muito consciente da sua condição, que vive dilacerado por conflitos interiores e principalmente pela ideia de que, diante dos outros, não pode ser quem ele realmente é. Este João Eduardo é uma personagem cativante, muito rica, que nos vai enleando a cada palavra e a cada frase, à medida que vai revelando o que, socialmente, tem de esconder. O disfarce como condição sine qua non da vida em sociedade é, sem dúvida, uma das reflexões suscitadas por este O homem disfarçado, de Fernando Namora, um livro de 1957.
«Para que lhe tinham servido os disfarces? Que resultara de
todos esses anos em que, laboriosamente, ocultara de si e dos outros as
rendições do seu caráter? Para quê, então, se tudo ruía ao primeiro abalo?»
«Efetivamente, que valiam as suas angústias num mundo em que
ele era um átomo insignificante? Nas discórdias e também nos afetos que o
cercavam, que valiam os seus problemas, que só ele valorizava e dentro dos
quais ia definhando?»
«João
Eduardo invejava na maioria das pessoas o facto de saírem de casa
despreocupadamente, por prazer, por gosto, sem irem em busca do que quer que
fosse; ou as pessoas que podiam sentar-se e apoderar-se do tempo e do ambiente,
enquanto se deixavam apoderar por eles. Caminhando ou em repouso, ele ia sempre
em busca de alguma coisa, esperava sempre alguma coisa, e todas as vezes com a
prévia descrença de não a encontrar.»

