sábado, 24 de maio de 2014

Das minhas leituras

Já fiz esta leitura há cerca de um ano, mas foi um livro de que gostei muito e, por, isso, de vez em quando, releio alguns dos excertos que transcrevi antes de o devolver à biblioteca pública. Trata-se de uma narrativa como eu gosto, bastante introspetiva, contada na primeira pessoa. O narrador e personagem principal, João Eduardo, é um ser humano muito consciente da sua condição, que vive dilacerado por conflitos interiores e principalmente pela ideia de que, diante dos outros, não pode ser quem ele realmente é. Este João Eduardo é uma personagem cativante, muito rica, que nos vai enleando a cada palavra e a cada frase, à medida que vai revelando o que, socialmente, tem de esconder. O disfarce como condição sine qua non da vida em sociedade é, sem dúvida, uma das reflexões suscitadas por este O homem disfarçado, de Fernando Namora, um livro de 1957.  
 
«Para que lhe tinham servido os disfarces? Que resultara de todos esses anos em que, laboriosamente, ocultara de si e dos outros as rendições do seu caráter? Para quê, então, se tudo ruía ao primeiro abalo?»
 
«Efetivamente, que valiam as suas angústias num mundo em que ele era um átomo insignificante? Nas discórdias e também nos afetos que o cercavam, que valiam os seus problemas, que só ele valorizava e dentro dos quais ia definhando?»

«João Eduardo invejava na maioria das pessoas o facto de saírem de casa despreocupadamente, por prazer, por gosto, sem irem em busca do que quer que fosse; ou as pessoas que podiam sentar-se e apoderar-se do tempo e do ambiente, enquanto se deixavam apoderar por eles. Caminhando ou em repouso, ele ia sempre em busca de alguma coisa, esperava sempre alguma coisa, e todas as vezes com a prévia descrença de não a encontrar.»

 

 

domingo, 18 de maio de 2014

Poesia

O título do livro de onde saiu este poema é «Conjugar afetos», tarefa sempre tão premente, não é?... Por vezes, tão negligenciada. Mas sempre premente. O curioso é que, deste livro de poesia, que nunca li, conheci este único poema, que faz da conjugação dos afetos uma tarefa ainda mais difícil e, sobretudo, dolorosa porque um «eu» conjuga um afeto na ausência do «tu». Um afeto feito, por isso, de revolta e intranquilidade, mantido vivo contrariando o outro, o que quebrou os laços e instaurou a solidão como parceira desse alguém que continua a conjugar um sentimento desfeito.. desfeito, entenda-se, no diálogo que o deveria nutrir, se calhar, também desfeito por estar impregnado de sentires hostis que, de algum modo, o conspurcam, todavia, não desfeito na sua essência sensitiva, que faz dele um sentimento completo, mesmo que unilateral... Graça Pires é a autora.    
 
 
O primeiro sinal da tua ausência

Rasgo, nos pulsos, a veia onde guardei
o primeiro sinal da tua ausência.
Esvaio-me em sangue, ou em raiva,...
como se a morte fosse o único modo
de resgatar os sentimentos
pelo percurso do coração.
É estranho como consigo amar-te,
mesmo quando em mim se quebram
todos os mares intranquilos
e o corpo se despedaça contra as fragas
de um pervertido monólogo.
É estranho como decidi partir, presa ao teu rosto,
contra a vertigem de querer encontrar,
na tua mão, a linha da minha vida. É estranho.
Há agora um lugar onde é perigoso o amor.
Sou a porta aberta a todos os pássaros
a caminho do sul e enrolo o pensamento
na revolta de não poder seguir-te,
de não poder querer-te,
de não poder esconjurar no teu abraço
todas as minhas culpas.


                                      Graça Pires, 'Conjugar afectos'

domingo, 4 de maio de 2014

MÃE

Como hoje é o Dia da Mãe, mas também o do aniversário de Audrey Hepburn, que faria 85 anos se fosse viva (o Google está a lembrá-lo), fica aqui esta foto, perfeita para homenagear o mais sublime dos amores, o maternal...

Sonoridades

De vez em quando, como agora, mergulho por aqui...


Sobre a «química»...

 
      «Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
      de mais que tua pele ser pele da minha pele.»
  
 
(Poema «Pele», de David Mourão-Ferreira; foto minha: «Adão e Eva», de Rosario de Velasco, Museu Rainha Sofia)