quarta-feira, 31 de julho de 2013

Das minhas Leituras...

Foi o último romance que li e o único escrito pela jornalista Ana Margarida de Carvalho. A quem interessar a minha opinião, acho que pode valer muito a pena enveredar por este exemplar da literatura portuguesa contemporânea.
As duas personagens principais são uma mulher nos trintas (Eugénia) e um homem nos setentas (Joaquim). Ela é jornalista e, embora contrariada, tem de o entrevistar como sobrevivente que foi do campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), que recebeu detidos vindos de Lisboa durante o Estado Novo. Se o primeiro contacto entre as duas personagens não augura uma entrevista de grande qualidade, tudo muda a partir do segundo encontro. É que Joaquim não é apenas um velho que sobreviveu à clausura, à tortura e à escravidão impostas pela ditadura, ele é um homem que, independentemente da idade que a pele encarquilhada lhe dá, traz dentro de si, gravada na alma e no corpo, uma história repleta de sentimentos e de emoções a que não consegue ficar indiferente a juventude da jornalista com que se cruzou. E é ao longo desta entrevista, que se prolonga por vários dias, que os percursos de vida destas personagens vão sendo desvelados e, também, se vão desembocando um no outro.
Quanto a nós, leitores, conforme a nossa sensibilidade e as nossas próprias experiências de vida, também nos vamos deixando tocar pelos relatos de cada um deles e apercebendo de que o título «Que importa a Fúria do mar» pode ser lido como uma interrogação feita de esperança e passível de ser transformada em tantas outras: Que importa que a vida nos tenha feito naufragar por diversas vezes se nos mantivemos sempre à tona? Que importa a dor física que nos infligem se a alma está cheia de amor e futuro? Que importa a desilusão amorosa quando foi a ilusão de amor o garante da sobrevivência? Que importam as cicatrizes que o corpo e a alma foram acumulando se houve uma altura em que tudo ganhou um novo sentido e a vida deu lugar a um recomeço? Que importa a idade avançada de um homem que mantém a juventude, a coragem e a capacidade de amar no verde dos seus olhos? …

Fica aqui uma passagem com o mar como horizonte:

«O mar é como tu, mãe. Sem remorsos, apesar da adulação constante dos poetas e dos rastos que sempre deixou na literatura portuguesa, como infiltrações nas casas. O mar nunca retribuiu. Indiferente a todos os louvores, não conhece compaixão, nem fidelidade, nem lei. Sem remorsos. Um sedutor que engana e trai. Devora frotas e vidas com um apetite insaciável. O mar é muito temperamental. Farta estava ela das suas destemperanças. Um inferno era para Eugénia sinónimo de ilha.» (p. 136)
 
 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Afinal, não foi preciso repetir muitas vezes o pensamento de F. Pessoa. Bastou olhar com alguma atenção para Ponta Delgada ao fim da tarde para perceber que um dia cinzento também pode ter algo de belo e, até, de promissor. Mas senti saudades da limpidez celeste de um dia de verão.... Se calhar, é por isso mesmo que o céu, de vez em quando (ou muitas vezes, vá), se enche de nuvens: para darmos sempre valor aos dias em que nos agracia com o fugidio sol e o tão desejado azul estival...

(Foto minha)

Hoje, o pensamento tem de ser este. Penso que, se repetir umas trinta vezes, deverei assimilá-lo e transformar em sorriso o esgar de deceção que surgiu na minha cara mal me confrontei com um dia tão carrancudo. Tantos planos por água abaixo, literalmente. Vou começar...


Cinema...

Em Ponta Delgada, podemos sair de casa para assistir a uma sessão de cinema de qualidade sem termos de pagar mais de cinco euros. Geralmente, paga-se quatro euros, mas, por vezes, nem se paga nada. Como hoje. O responsável por esta situação inédita e bem-vinda é o cineclube 9500, no antigo Cine-Solmar. É preciso que se diga que não tenho qualquer problema em pagar para ver um bom filme, mas confesso que assim sabe mesmo bem. Acabei de assistir ao «The Night of the Hunter» («A Sombra do Caçador»), de Charles Laughton. Foi o único filme deste realizador, é de 1955 e tem como principal protagonista o ator Robert Mitchum. Apesar de narrar uma história muito simples e, a meu ver, não muito original, mostrando-se até algo ingénuo, vale a pena ver, pois, mesmo assim, consegue prender o espetador no decorrer dos acontecimentos, criando alguma expetativa entre determinadas cenas, apresenta um leque de personagens bastante interessantes e muito bem interpretadas, e tem algumas imagens com uma grande qualidade estética, por isso cativa visualmente.
Como a possibilidade de dar acesso ao visionamento de clássicos do cinema tem sido uma das preocupações do cineclube 9500, fica aqui, desde já, o agradecimento desta espetadora grata e o mais possível assídua.
 
 
  

domingo, 28 de julho de 2013

Sonoridades...

Luzia...
 

 


Esta música perseguiu-me durante todo o dia de hoje. Se não estava a passar na rádio, estava na minha cabeça. Se não estava na minha cabeça, a rádio, por coincidência, tratava de a passar. No entanto, esta insistência melódica não me causou qualquer transtorno, pelo contrário, fez-me sorrir! E até acho que esteve sempre em perfeita consonância com o domingo feito de calor, azul, sol e banhos de mar que por cá se viveu. Mas, findo um dia de férias quase perfeito como este de hoje, acho melhor deixar por aqui a intrometida, todavia perfeita, banda sonora de cariz muito popular... Espero, assim, conseguir exorcizá-la de mim. Amanhã... amanhã, que venha outra.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Das minhas leituras...

41 Lugares para ver antes de morrer

A revista «Visão» desta semana trouxe, na rubrica «Viagens», um guia intitulado «41 Lugares para ver antes de morrer». Como adoro viajar, embora ainda tenha feito poucos quilómetros por esse mundo fora, deliciei-me com a leitura das propostas feitas por 15 viajantes / escritores portugueses. Alguns destes viajantes já eram meus conhecidos, como Gonçalo Cadilhe, Inácio Rozeira, Raquel Ochoa, Tiago Salazar, José Peixoto, outros eram-me totalmente desconhecidos. Dos 41 lugares referidos, apenas um (Picos da Europa) consta das minhas experiências de viagens, mas não desanimei, pois, apesar de considerar que os lugares propostos são realmente a visitar, também sei que poderiam constar da mesma lista outros lugres se elaborada por outras pessoas.
Houve, no entanto, dois testemunhos de um mesmo autor que me apaixonaram, não apenas por descreverem dois lugares que constam da minha lista de viagens a fazer, mas também por me terem cativado com uma escrita que revela a sensibilidade literária do viajante. E é fantástico quando isto acontece num livro ou blogue de viagens: o autor fascina com uma escrita que catapulta o texto para o campo da literatura, mostrando o seu potencial no uso da palavra escrita, conseguindo fazer-nos ver e sentir um determinado lugar através de uma linguagem emotiva e bela.
Por estas razões, vou destacar o modo como Jorge Vassallo, um ilustre desconhecido para mim, descreve Varanasi (Índia) e Istambul (Turquia). Sobre a cidade indiana, ele diz: «Varanasi é a Índia em bruto, o imaginário romântico e mágico, ao mesmo tempo chocante, visceral, inesquecível.». Istambul é-nos apresentada deste modo: «Um universo de adjetivos e contradições, de uma geografia de encontros e desencontros, de recortes no céu e coloridos gritos nas paredes. Um lugar orgulhoso, quase arrogante, mas que abraça quem quer dançar. Um lugar que canta a sua fé com devoção, que dança com fervor, que vive tanto da oração como da festa, do protesto. É uma cidade-postal, é uma cidade-cartaz-de-propaganda, uma cidade-obra-de-arte.».
Em tempo de férias... faz-nos querer estar de partida...
 
(Fotos do Google)