Foi o último romance que li e o único escrito pela jornalista Ana Margarida de Carvalho. A quem interessar a minha opinião, acho que pode valer muito a pena enveredar por este exemplar da literatura portuguesa contemporânea.
As duas personagens principais são uma mulher nos trintas (Eugénia) e um homem nos setentas (Joaquim). Ela é jornalista e, embora contrariada, tem de o entrevistar como sobrevivente que foi do campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), que recebeu detidos vindos de Lisboa durante o Estado Novo. Se o primeiro contacto entre as duas personagens não augura uma entrevista de grande qualidade, tudo muda a partir do segundo encontro. É que Joaquim não é apenas um velho que sobreviveu à clausura, à tortura e à escravidão impostas pela ditadura, ele é um homem que, independentemente da idade que a pele encarquilhada lhe dá, traz dentro de si, gravada na alma e no corpo, uma história repleta de sentimentos e de emoções a que não consegue ficar indiferente a juventude da jornalista com que se cruzou. E é ao longo desta entrevista, que se prolonga por vários dias, que os percursos de vida destas personagens vão sendo desvelados e, também, se vão desembocando um no outro.
Quanto a nós, leitores, conforme a nossa sensibilidade e as nossas próprias experiências de vida, também nos vamos deixando tocar pelos relatos de cada um deles e apercebendo de que o título «Que importa a Fúria do mar» pode ser lido como uma interrogação feita de esperança e passível de ser transformada em tantas outras: Que importa que a vida nos tenha feito naufragar por diversas vezes se nos mantivemos sempre à tona? Que importa a dor física que nos infligem se a alma está cheia de amor e futuro? Que importa a desilusão amorosa quando foi a ilusão de amor o garante da sobrevivência? Que importam as cicatrizes que o corpo e a alma foram acumulando se houve uma altura em que tudo ganhou um novo sentido e a vida deu lugar a um recomeço? Que importa a idade avançada de um homem que mantém a juventude, a coragem e a capacidade de amar no verde dos seus olhos? …
As duas personagens principais são uma mulher nos trintas (Eugénia) e um homem nos setentas (Joaquim). Ela é jornalista e, embora contrariada, tem de o entrevistar como sobrevivente que foi do campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), que recebeu detidos vindos de Lisboa durante o Estado Novo. Se o primeiro contacto entre as duas personagens não augura uma entrevista de grande qualidade, tudo muda a partir do segundo encontro. É que Joaquim não é apenas um velho que sobreviveu à clausura, à tortura e à escravidão impostas pela ditadura, ele é um homem que, independentemente da idade que a pele encarquilhada lhe dá, traz dentro de si, gravada na alma e no corpo, uma história repleta de sentimentos e de emoções a que não consegue ficar indiferente a juventude da jornalista com que se cruzou. E é ao longo desta entrevista, que se prolonga por vários dias, que os percursos de vida destas personagens vão sendo desvelados e, também, se vão desembocando um no outro.
Quanto a nós, leitores, conforme a nossa sensibilidade e as nossas próprias experiências de vida, também nos vamos deixando tocar pelos relatos de cada um deles e apercebendo de que o título «Que importa a Fúria do mar» pode ser lido como uma interrogação feita de esperança e passível de ser transformada em tantas outras: Que importa que a vida nos tenha feito naufragar por diversas vezes se nos mantivemos sempre à tona? Que importa a dor física que nos infligem se a alma está cheia de amor e futuro? Que importa a desilusão amorosa quando foi a ilusão de amor o garante da sobrevivência? Que importam as cicatrizes que o corpo e a alma foram acumulando se houve uma altura em que tudo ganhou um novo sentido e a vida deu lugar a um recomeço? Que importa a idade avançada de um homem que mantém a juventude, a coragem e a capacidade de amar no verde dos seus olhos? …
Fica aqui uma passagem com o mar como horizonte:
«O mar é como tu, mãe. Sem remorsos, apesar da adulação constante dos poetas e dos rastos que sempre deixou na literatura portuguesa, como infiltrações nas casas. O mar nunca retribuiu. Indiferente a todos os louvores, não conhece compaixão, nem fidelidade, nem lei. Sem remorsos. Um sedutor que engana e trai. Devora frotas e vidas com um apetite insaciável. O mar é muito temperamental. Farta estava ela das suas destemperanças. Um inferno era para Eugénia sinónimo de ilha.» (p. 136)




